PESCA EM BARRA VELHA


Orientei o Acadêmico  Luciano Schneider na Graduação em Geografia Pela Univille e ele fez o seguinte TCC.
O município de Barra Velha possui uma área total de 135 Km2, localizando-se na região nordeste do Estado de Santa Catarina. Na divisão microrregional estadual, o município pertence à microrregião do vale do Itajaí. Os limites extremos do município encontram-se da seguinte forma: ao norte limita-se com o Rio Itapocú, que divide o município com o município de Araquari; ao sul limita-se com os municípios de Piçarras e Luiz Alves; ao leste com o Oceano Atlântico e ao oeste com o município de São João do Itaperiú.   
Segundo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), censo 2000, o município, atualmente tem uma população fixa de 15.654 habitantes, certamente que na temporada turística esse total aumenta grandemente.
A economia municipal urbana baseia-se em atividades ligadas ao turismo, comércio e a pesca. Já na zona rural predominam as atividades agropecuárias.
Por ser um município litorâneo, a vegetação encontra-se bastante antropofisada. Tanto, a mata atlântica, quanto o manguezal, sofreram a agressão humana.
O pescador artesanal barravelhense sabe que o ambiente costeiro é a fonte de sua atividade, logo qualquer alteração antrópica neste local compromete o equilíbrio do sistema natural e a sobrevivência do setor pesqueiro, então ele procura manter de forma natural esse local, evitando maiores intervenções. 
Tendo em vista a importância do ambiente costeiro para a atividade pesqueira em Barra Velha serão demonstradas as principais degradações ambientais constatadas pela Polícia Militar de proteção Ambiental nos últimos anos no município. Segundo pesquisa no cadastro de ocorrências da Polícia Ambiental, foi verificado que a 38% das ocorrências atendidas no município de Barra Velha refere-se a crimes contra os ambientes costeiros. Destes crimes contra ambientes costeiros, cerca de 57,9% dizem respeito a aterros ou construções em área de preservação permanente (restinga e manguezal), 36,9% são crimes praticados contra os estoques pesqueiros e 5,2% poluição hídrica.




Figura 1 – Demonstra a percentagem entre os crimes ambientais, atendidos no município de Barra Velha, entre os anos 2000 e 2003.
Fonte: 4° Pelotão de Polícia Militar de Proteção Ambiental de Joinville-SC, dados de setembro 2003.

Observando os dados, vê-se que são várias as atividades que contribuem para a degradação e a escassez dos recursos naturais em nosso município. Sendo assim, cabe a quem de direito criar medidas de conscientização e ordenação dos usos do recurso, para que as futuras gerações também possam usufruir tal patrimônio.     
De acordo com o cadastro de pescadores associados à colônia de Barra Velha, o município dispõe de 197 pescadores profissionais, pessoas que tem a pesca como principal atividade de subsistência. Em entrevista concedida, o Presidente da colônia de pescadores de Barra Velha, Sr. Júlio dos Santos, afirma que “aproximadamente, 100 pessoas efetuam a pesca sem estar associadas à colônia de pescadores e sem possuir carteira de pescador profissional”. Além dos empregos diretos, também podemos considerar, como pesca, a coleta de molusco praticada como meio de auxiliar a renda familiar. Ainda, é importante mencionar as atividades praticadas em terra, mas pertencentes ao ramo pesqueiro como a confecção de redes e utensílios, e, também, a limpeza de peixe efetuado junto ao porto das canoas na Praia Central, fazendo com que as mulheres dos pescadores auxiliem no sustento familiar. Observando esses dados, se pode afirmar que, até o momento, são poucas as atividades econômicas praticadas no município que empregam expressiva quantidade de pessoas.
Historicamente, na zona próxima ao litoral a atividade pesqueira sempre foi o meio que subsidiou a formação dos pequenos centros, tradicionalmente os lavradores do interior, deslocavam-se com sua produção para as localidades praianas onde era efetuada a troca de produtos de origem agrícola (farinha, feijão, arroz, etc.) com produto pescado.
Hoje, no município são poucos os locais onde se concentram grupos de pescadores para o exercício de suas atividades. Possui duas comunidades, a localizada na Praia Central e na Praia do Grant, que podem ser consideradas como as mais expressivas e uma terceira situada na Praia de Pedras Brancas, contendo apenas alguns pescadores com embarcações não motorizadas que pescam apenas para o consumo próprio e eventualmente vendem sua produção.
O grupo de pescadores estabelecido na Praia Central de Barra Velha se dedica quase que exclusivamente a captura de espécies de peixes. Sr. Júlio dos Santos, afirma que:
“Existem peixes que são capturados o ano inteiro, nós temos a betara, corvina, bembeca ou pescadinha e o camarão, já em menos quantidade, esses safam muito o nosso pescador. No verão os peixes que costumam ser mais pegados, são: o robalo, a gaivira, a tainhota e camarão. No inverno, temos a safra da tainha, juntamente com a sororoca e anchova. O inverno costuma ser melhor, em pescaria, para o pescador barravelhense”.
Para efetuar tais capturas os pescadores possuem embarcações equipadas com petrechos destinados as práticas de pesca em mar aberto. É notório no porto das canoas que as embarcações, na grande maioria, encontram-se com seus motores e “cascos” em péssimas condições de uso, isso devido às crises enfrentadas pelo setor.
É importante mencionar que na safra de determinadas espécies, principalmente a da tainha, alguns grupos de pescadores migram em direção a Boca da Barra (foz do Rio Itapocú), onde se instalam precariamente até o findar da safra da espécie.
Sabe-se que a pesca enquanto atividade extrativa mantém uma íntima relação com os processos naturais. São os fatores oceanográficos (correntes, marés, ondas) e geológicos (relevo do fundo oceânico e aporte de sedimentos carreados pelos rios) que definem os nichos ecológicos, os ciclos de reprodução e migração das espécies, que por sua vez, define a presença dos cardumes nos possíveis locais de pesca próximos a nossa costa. São as condições de mar e o tempo atmosférico que delimitam o tempo de duração das praticas pesqueiras, influenciando com maior intensidade as praticas de pesca que utilizam baixa tecnologia, caso da pesca artesanal exercida em Barra Velha.
O pescador tem o ambiente marinho como objeto de seu trabalho, sendo este o fornecedor natural do produto capturado, por meio de seu esforço e utilização dos instrumentos de pesca.  Ao longo dos tempos, através da constante observação da natureza, os pescadores desenvolveram técnicas e meios de captura para as diversas espécies marinhas, tais meios eram repassados de geração em geração onde se evoluíram. Hoje em dia, o pescador dispõe de meios que sofreram influência de vários povos, adaptados, no decorrer da historia, as condições de cada época. Em Barra Velha, os pescadores dispõem de técnicas e petrechos herdados dos povos lusitanos que sofreram adaptações e implementações originadas da cultura pesqueira indígena.
Todo o método de apropriação do pescado em Barra Velho é o resultado de uma tradição que vêm sendo repassada de pai para filho ao longo de gerações. Afirma Sr. Júlio dos Santos que “o jovem pescador aprende a pescar com seus familiares, desde pequenos exercem atividades ligadas à pesca em suas casas, mas só após a idade de 16 anos eles embarcam”.
A pesca é uma das poucas profissões que exige o mínimo grau de instrução por parte dos interessados, quase todas as informações necessárias para a inserção na atividade são repassadas pelos familiares ou companheiros de pescaria. Embora o pescador tenha pouco estudo, o mesmo dispõe uma série de conhecimentos que facilitam o exercício da profissão e que não se aprende em escolas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se afirmar que a pesca artesanal em Barra Velha é uma das poucas atividades que absorve mão-de-obra de pouca ou de nenhuma qualificação técnica formal, em alguns casos é a única oportunidade de emprego para certos grupos de indivíduos.
De acordo com a colônia de pescadores de Barra Velha não se tem nenhuma estimativa da quantidade exata de pescado que é produzido municipalmente. Isso ocorre por vários motivos: o primeiro, porque o produto é vendido “a olho” diretamente ao consumidor ou atravessador; o segundo, porque cada pescador não tem condições de pesar sua produção; o terceiro, falta de um cadastro para armazenar os dados quantitativos e; o quarto, porque toda produção não se destina para um único local, tornando-a fragmentada e impossibilitada de um controle.
Basicamente todo o produto pescado no litoral que chega à praia de Barra Velha é destinado ao mercado local. Alguns pescadores optam por venderem seu peixe para atravessadores, sendo esta considerada uma venda garantida, pois não corre o risco de perder o pescado por falta de acondicionamento e não precisa esperar o consumidor para vender-lhe diretamente o produto, fazendo com que esse tempo seja ocupado com outras atividades.
Os atravessadores por sua vez compram o pescado das embarcações que chegam a praia e saem a distribuir de casa em casa, obtendo um certo lucro sobre o trabalho do pescador. Isso acontece porque o pescador não possui um local adequado para beneficiar e em seguida fornecer o pescado a um preço mais justo. Muitos pescadores associados à colônia reivindicam a instalação de uma cooperativa onde se destinaria seu pescado, favorecendo a categoria e o próprio consumidor que compraria o fruto do mar direto do “produtor”. 

 

6 REFERÊNCIAS

AB’SABER, Aziz Nacib. Litoral do Brasil. São Paulo: Metalivros, 2001.
BELLIA, V. Introdução à economia do meio ambiente. Ibama, Brasília, 1996.
BIBLIA SAGRADA. Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.
BRASIL. Lei Federal nº 9.605 (1998). Lei de Crimes Ambientais do Brasil. Brasília: DF: Senado, 1998.

BURZTIN, Maria Augusta Almeida. Questão ambiental: instrumentos e práticas. Ibama, Brasília, 1994.

CARDOSO, Eduardo Schiavone. Vitoreiros e Monteiros: ilhéus do litoral norte paulista. 1996. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo.
CARDOSO, Eduardo Schiavone. Pescadores artesanais: natureza, território, movimento social. 2001. 143 f. Tese (Doutorado em Geografia Física) - Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo.
DIEGUES, Antônio Carlos Sant’ Ana. Pescadores, camponeses e trabalhadores do mar. São Paulo: Àtica, 1994.
DIEGUS, Antônio Carlos Sant’ Ana. Ecologia Humana e Desenvolvimento em áreas costeriras: Nupaub/USP, 1995.
IBGE. Instituto brasileiro de geografia e estatística. Brasil em números. Rio de Janeiro, 2000. 366p.
LEINZ, Viktor; AMARAL, Ségio Estanislau do. Geologia Geral. 12. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1995.
MARX, Karl: O capital, terceira edição: ed. Zahar, Rio de Janeiro, 1973, 395 páginas.
NORT, Egon. Brasil rumo ao primeiro mundo. Florianópolis: 1997.
SODRE, Nelson Werneck. Introdução à geografia: Geografia e Ideologia. 7.ed. Petrópolis: Vozes, 1989.
TREMEL, Ernesto. Temas relacionados à pesca marítima: pesca, novos rumos. Revista Instituto Histórico Geográfico, Florianópolis, v., n. 18, p. 59-83, (...)1999.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e de Extensão. O mar e seus recursos ictíicos. Florianópolis, SC, 1983.

ENTREVISTAS:
Sr. Júlio dos Santos – Coordenador da Colônia de Pescadores (entrevista oral).
4° Pelotão de Polícia Militar de Proteção Ambiental de Joinville-SC, dados de setembro 2003.

Comentários

  1. Bom dia Dionicio,
    Estou fazendo uma pesquisa (Univali) a respeito das atividades pesqueiras da região norte do estado de SC. Encontrei este trabalho aqui no blog, achei bastante interessante e útil também para as minhas pesquisas.
    Você poderia me informar onde encontro o TCC completo do Luciano, por gentileza?
    E você possui conhecimento de outros trabalhos disponíveis que se referem à pesca da região norte de SC?

    Grata,
    Bruna

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    Respostas
    1. Olá Bruna, O TCC físico está na Univille. tenho uma cópia dele on-line, se quiser?

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    2. Pode ser a copia on-line sim Dionicio. Você poderia me encaminhar, por gentileza? brunanpe@gmail.com

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  2. Boa tarde.

    Estou realizando uma pesquisa para um trabalho de conclusão de curso de Gastronomia que envolve a atividade pesqueira em Barra Velha. Você poderia me encaminhar, por email, a cópia in line do trabalho do Dionicio?

    O e-mail seria luanabetancor@hotmail.com

    Desde já, muito obrigada.

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