EDUCAÇÃO VERSUS TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO





1   Introdução

Ao longo deste século, tivemos um aprofundamento nunca antes igualado da divisão do trabalho e uma crescente transformação do conhecimento em força produtiva, promovidas pelo capitalismo a partir de uma série de conflitos que suprem às necessidades e anseios daqueles que a vivenciam. Essas mudanças também estão presentes na educação.
Quando os portugueses tomaram de posse o Brasil, logo tentaram ensinar aos povos nativos a cultura européia. Pero Vaz de Caminha certamente reuniu um grupo de nativos e com um bastão riscava na areia mostrando como era o mundo de onde ele teria vindo. Já tentava ensinar. Apresentava-se, ali, uma aula expositiva e dialogada.
Mais tarde, os Jesuítas, com sua catequese liderada por Manoel da Nóbrega, tendo como maior motivador o Padre José de Anchienta, fazia uso de um processo pedagógico para ensinar aos índios a cultura e a religião européia. Esse processo baseava-se na reunião de grupos para repassar conhecimentos. Era utilizado um pedaço de argila para riscar em pedras, ilustrando assim suas explicações e teorias. Nada mais tradicional na forma de ministrar suas “aulas”. Isso ocorreu até 1759, quando o marquês de Pombal expulsou os Jesuítas do Brasil, porém os métodos tradicionais de educação ainda continuaram.
As pequenas mudanças que ocorreram no mundo acadêmico, só vieram com a Escola Nova já em meados deste século. Nesse período os alunos deveriam ser  levados e incentivados à pesquisa desenvolvendo trabalhos em grupos, porém o Professor, ainda aparecia como detentor absoluto do saber.
Valente (1991) ”A centralização da informação na figura da professor e a didática restrita a aulas expositivas e ao uso do quadro de giz e do apagador já não conseguem mais manter o interesse de ninguém”. Parece claro que algo precisa ser mudado. Essas mudanças aparecem com os grandes pensadores da educação moderna. A nível mundial, algumas mudanças vieram com as idéias de Piaget (1973), quando ele afirma que “O modelo transdisciplinar se configura como uma utopia epistemológica, na qual as conexões entre as várias áreas do conhecimento se dariam no interior de um sistema global sem fronteiras estáveis entre as diferentes disciplinas.” E, no Brasil, Paulo Freire que desenvolve a teoria do construtivismo. 

2   A informática na escola

As primeiras mudanças na conduta acadêmica, no Brasil, só vem a partir da década de 70, contudo essas mudanças ainda são bastante restritas às Universidades e ainda em alguns cursos Universitários.As mudanças mais significativas ocorrem em 1973, quando a UFRJ institui a Informática como tecnologia educacional, voltada para a avaliação formativa e somativa dos alunos de Química; também o projeto EDUCOM da Universidade de Rio Grande que neste mesmo ano institui a Informática nos conteúdos de Física; e em 1975 foi a vez da UNICAMP criar um laboratório de Informática.
Valente (1991) “Defensores e opositores da informática na educação têm divergido, principalmente, quanto ao significado desta renovação nos métodos de ensino.” O que leva a uma série de discussões. Será que o aluno realmente aprende com o computador? Será que a calculadora não inibe a capacidade do aluno saber calcular? As inovações são necessárias? Em geral essas perguntas sempre são feitas. Eu, como Professor de Ensino Médio tenho presenciado colegas de profissão que não aceitam que seus alunos usem a calculadora para fazerem simples equações. Quem diria ir ao laboratório de Informática e usar o Excell para resolver problemas de Matemática, Física ou Química. Cá entre nós seria mais útil aprender usar o computador do que ficar decorando fórmulas, pois na vida profissional do cidadão ele terá que usar a informática e não apenas saber as fórmulas.
O caso das relações Educação vis a vis Informática parece possibilitar uma reflexão ampliada sobre interdisciplinaridade, uma vez que envolve não apenas áreas de conhecimento de especialização como também campos de atuação profissional e social. A informatização tem-se apresentado mais como um laboratório acadêmico do que como uma disciplina, o que torna complexa sua relação com uma área mais definida como a Informática.Enquanto a Educação parece marcada pelo atraso tecnológico e pela incompetência prática para desempenhar sua função, os aspectos imediatamente observáveis na área da Informática referem-se às suas incessantes transformações tecnológicas e ao seu poder de manipulação de certos tipos de informação, o que leva muitas profissionais a tentarem aproximações entre as duas áreas sob o pressuposto desta oposição, sem passar por um exame crítico das relações entre Educação, Tecnologia e Sociedade.
A possibilidade de uma relação mais fecunda entre Educação e Informática começa a surgir a partir de um declínio da influência tecnicista e do surgimento de um interesse comum em torno de questões ligadas à natureza do conhecimento e dos processos cognitivos.
Esta pressão da realidade, embora estimulante e mobilizadora, não é suficiente para fundamentar a investigação e a prática profissional interdisciplinar.

3   Educação e a Formação Profissional

Há algum tempo, verifica-se nas empresas capitalistas mais avançadas uma tendência à substituição das formas organizacionais tayloristas, baseadas na fragmentação e no controle heterônimo do trabalho dos indivíduos, por modelos baseados na cooperação, envolvimento a participação do trabalhador. Assentados em uma nova realidade tecnológica, tais modelos pós-tayloristas requerem um outro tipo de qualificação, no qual alguns trabalhadores precisam conhecer os diferentes tipos de máquinas e tarefas para poderem assumir as várias funções que os novos desenhos organizacionais possibilitam. Isto pode significar a necessidade de uma nova relação do trabalhador com o saber, mais global e assentada no conhecimento de princípios comuns a vários processos produtivos.
Neves (1993) ”No que diz respeito à educação formal, o sistema educacional público no Brasil vive uma crise cada vez mais acentuada e muitos trabalhadores não têm acesso à escola. Mesmo que as empresas estejam desenvolvendo cursos de treinamento, tanto no âmbito da educação formal quanto profissional, pergunta-se até que ponto esse trabalhador se encontra realmente preparado para enfrentar os novos conhecimentos (métodos estatísticos, cálculo de produtividade) que lhe são exigidos e as mudanças no conteúdo do trabalho”. Ou seja, estaria a Escola com sua prática tradicional desenvolvendo e preparando os profissionais para o mercado de trabalho? Ou será que a escola apenas está preparando os alunos para a vida? Que vida?
Salermo (1988) “Considerando que os novos padrões tecnológicos poderiam ser para efeitos dos nossos propósitos, conceituados como o conjunto de características relativas ao meio técnico e organizacional, que responde a situações sociais, políticas e econômicas dadas e vão se difundindo de forma heterogênea no tecido econômico, definindo trajetória tecnológica que baliza as escolhas empresariais, resta melhor precisar os componentes desses padrões. É fundamental, contudo, ressaltar que tais padrões, associados a determinados parâmetros de concorrência entre empresas, podem ter desdobramentos em vários sistemas ou modelos de produção. Por exemplo, muito se tem falado em toyotismo como padrão para a indústria de produção em alta série; até podemos considerar que as trajetórias de evolução das empresas são desiguais e particulares, e que os objetivos competitivos podem ser atingidos de diversas maneiras, não havendo uma que seja ótima”.
Cada vez mais os profissionais precisam ser mais ecléticos, mais completos. Os operários que eram contratados só para apertar botões das máquinas, agora estão sendo ou reciclados ou substituídos. A cada ano que passa os operários precisam ter uma maior formação acadêmica, treinamento com informática e conhecimentos ambientais, sociais, políticos e organizacionais.
Ao contrário do que se poderia esperar, o debate ocorre de maneira simplificada, produzindo confusão sobre os determinantes gerais e específicos do emprego nacional. Pois, o próprio Governo está com dificuldades de definir o que é Ensino Técnico e o que é necessário para a formação geral do cidadão.
Há persistência nas formas de avaliações tradicionais nos campos de trabalho que enfocam, por exemplo, o emprego como uma variável resultante quase exclusiva do comportamento do mercado de trabalho, seja pelo lado da oferta de trabalho, seja pelo lado da demanda de mão-de-obra, seja pela regulação do trabalho. Ou seja, no entendimento de alguns não há necessidade de um maior aperfeiçoamento profissional, basta esperar que os empregos aparecem.
A subordinação do mercado de trabalho ao processo de acumulação capitalista já foi e muito discutida. Quando Marx (1848) escreveu “Na medida em que essa relação de trabalho permite que a remuneração do trabalhador seja menor que o valor que ele produz, o capitalista estará se apropriando da parcela não paga ao trabalhador. Este valor apropriado pelo capitalista que advém da diferença entre o valor produzido e o salário pago ao trabalhador é chamado de mais- valia.” Ele estava sugerindo que deveríamos lutar para buscar um espaço no campo do trabalho e também alcançar um determinado aperfeiçoamento.
Na década de 30, J. M. Keynes, ampliou o enfoque sobre a determinação do emprego, que antes se pautava no simples ajustamento entre oferta e demanda de trabalho e da alteração dos salários, para o nível da demanda agregada. Isso porque a expansão do capital, ao criar e destruir oportunidades de emprego, termina afetando invariavelmente tanto a demanda quanto a oferta de trabalho e impede que sejam consideradas forças independentes, cujo simples ajuste poderia definir o nível geral de emprego.
Questiona-se: e a escola está preparando o aluno-cidadão para este mundo tão competitivo? É claro que se depender só do quadro, giz e da boa vontade dos Professores, esta preparação não virá.

4   Resultado da Pesquisa

Para saber qual era a opinião dos educadores sobre a atual situação da educação e principalmente com a entrada da informática nas escolas, fizemos uma pesquisa, onde distribuímos 50 questionários (em anexo), sendo 25 para escolas particulares e 25 para escolas públicas da cidade de Joinville. Os candidatos foram Professores e Diretores de Escolas que possuem computador em casa. Tivemos 35 retornos, sendo 15 questionários de escolas públicas e 20 de escolas particulares.
Entre as escolas públicas, optamos pelas duas maiores da cidade. Os Professores foram escolhidos aleatoriamente. As duas escolas particulares são: a maior escola de ensino regular da cidade e uma das mais tradicionais escola de ensino supletivo da cidade. Quanto às respostas, o resultado foi a seguinte:
A primeira pergunta: Como você vê a entrada da informática na escola? Tivemos 85% de respostas “com naturalidade”, os demais responderam “com receio”, o que nos leva a questionar qual será este receio? E também como é que a informática deve entrar na sala de aula. Pois, pelo que parece existe uma falha no treinamento dos Professores, a maioria não tem preparo para usar o computador.
A segunda pergunta: No seu ponto de vista, a informática auxilia ou não as aulas curriculares? 100% das respostas foram sim “auxilia”, ou seja, ninguém descarta o potencial de inovação que é o computador, nem mesmo os receosos da pergunta anterior. A questão que fica pendente agora é a seguinte. Se não há dúvidas da necessidade e da utilidade de computador na sala de aula, por que alguns Professores tem receio da entrada da informática nas escolas?
A terceira pergunta: Você usa o computador em que condições? 71% afirmaram que usam na “preparação de aulas”, 19% responderam, “como ferramenta na sala de aula” e 10% destacaram que “usam muito pouco”. Podemos concluir com esses resultados que os Professores mesmo dispondo de laboratórios de informática em suas escolas, usam o computador para seu benefício profissional. Cabe também lembrar que nem sempre é possível fazer uso desse instrumento e que muitos professores ainda não foram devidamente treinados para usar desta tecnologia.
Pergunta quatro: Se você pudesse definir: 82% dos entrevistados tornariam obrigatório o uso do computador nas escolas. 18% definiu “outras opções”. Curioso este resultado, temos uma ampla maioria que gostaria de ver todos as escolas com um laboratório de informática, porém mas questões anteriores muitos não fazem uso tão regular desse instrumento.
Pergunta cinco: Você aceita que os alunos digitem os trabalhos para lhe entregar? 65% responderam “sim”, 35% com respostas “depende do trabalho”. Isso nos dá uma exata definição da problemática causada. Pois, enquanto o computador auxilia na confecção do trabalho, para alguns alunos vira “muleta”, ou seja, o mesmo trabalho aparece para vários alunos e muitas vezes nem sequer a fonte é alterada. Será que o aluno sabe exatamente o que foi escrito naquelas folhas? Logo, os Professores estão cobertos de razão de não aceitar os trabalhos digitados, pois a maioria dos alunos ainda não aprendeu a usar corretamente essa ferramenta.
Sexta pergunta: Qual é o papel da informática nos dias de hoje? 100% responderam “ferramenta de trabalho”. Novamente confirmando que nossos Professores gostaram da idéia de trabalhar com um computador, porém, não estão conseguindo levá-los para a sala de aula com tanta facilidade.
Essa pergunta merece uma reflexão. Em todos os campos de trabalho vemos que os profissionais condenam a entrada de meios inovadores na linha de produção, pois a maioria teme a perda do seu emprego. Enquanto os profissionais da educação não têm essa preocupação, e nem poderiam ter pois, jamais vamos ter um computador dando aula, pelo menos esperamos que não. Todos os demais profissionais do mundo poderão ser substituídos, exceto o Professor.
A sétima pergunta era aberta para que se escrevesse um texto sobre a informática: E as respostas quase foram unânimes em afirmar que o computador veio para beneficiar e que a educação não poderia ficar alheia dessa inovação. Porém, tivemos também severas críticas para as escolas que obrigam os Professores a irem ao laboratório de informática, mesmo sem ter o que fazer. Contudo, na maioria das cadeiras pode-se usar com eficiência este mecanismo.
Então, percebe-se claramente que nenhum educador teme o computador, porém, praticamente todos têm dificuldade para fazer uso dessa máquina. Logo, concluímos que não basta que as inovações ocorram, é necessário estar preparado e saber lidar com ela.

5  Conclusão

Como vimos, não existe resistência dos Professores para com o uso da Informática nas Escolas, pois, tudo o que é novo deve ser explorado, se não se pode ter benefícios, ignora-se. Contudo, o grande problema referente à Informática e exatamente o que fazer com ela, como usá-la e com que metodologia.
Historicamente, sempre tivemos uma educação extremamente conservadora e centrada em um único método de ensino. Também temos que questionar as universidades, pois se estas não formam Professores usando a Informática, como é que eles vão usar com seus alunos?
As indústrias, escritórios e demais fontes empregadoras já fazem uso contínuo da Informática. As escolas precisam a cada dia que passa, incentivar de forma mais promissora o uso da Informática na sala de aula. Porém, é necessário uma metodologia e principalmente um programa para que não se use de forma incorreta e de forma desnecessária.
Um dos questionamentos mais interessantes que se passa é que as inovações vão tirar nosso emprego. Já vimos esse filme quando tivemos a Revolução Industrial, agora, com a maior propriedade, estamos vendo novamente com a informática. Realmente algumas pessoas irão ficar sem emprego, por isso se faz necessário uma constante atualização e reciclagem profissional. Cabe ao governo e às escolas cada vez mais preparar essa mão-de-obra para conviver com essas inovações.

6   Bibliografia

-          PIAGET, Jean: hepistemologia das relações interdisciplinares. Paris, 1973.
-          JÚNIOR, Fábio Barbosa Ribas: Educação e Informática: o desafio da inter
disciplinaridade. Revista Acesso, 1998.
-       MARX, Carl: Trabalho Assalariado e Capital. Publicação: Obras Escolhidas. ed.
Ômega, São Paulo, S/D.
-          NEVES, Magda de Almeida: Modernização industrial no Brasil: o surgimento de
novos paradigmas na organização do trabalho. Revista Educação & Sociedade, nº 45, agosto de 1993.
-          SALERNO, M. Sergio: Reestruturação industrial e novos padrões de produção.
Seminário CNTA, caderno 3. Julho e setembro de 1988.
-          VALENTE, José Armando: Liberando a Mente: computadores na educação
especial. Campinas Graf. Central da UNICAMP, 1991.


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