A NOVA ORDEM MUNDIAL




O mundo sempre passou por transformações, como por exemplo, a formações dos grandes impérios, tipo o Império romano. Contudo, nunca um povo conseguiu viver isoladamente e sempre tivemos as relações comerciais.
A partir das relações comerciais, onde um povo passou a ser mais beneficiado que outros e alguns povos ficaram a reboque de outros, criou-se o que foi convencionado chamar de Divisão Internacional do Trabalho. Nessa nova característica, alguns povos serviram à outros.
Contudo, somente após a Segundo Guerra Mundial é que vamos ter um comércio internacional mais intenso. Isso se deu em função da necessidade de expansão do capitalismo e da reconstrução da Europa. O que caracteriza no mundo uma nova Divisão Internacional do Trabalho.
Hoje, com as novas transformações ocorridas no campo social e político, estamos vivendo uma nova etapa da evolução econômica mundial. Seria então, o momento de uma Nova Divisão Internacional do Trabalho?
O objetivo deste trabalho é analisar a importância da atual divisão internacional do trabalho, seu descrédito e finalmente o aparecimento de uma nova ordem mundial.

Da Velha À Nova Ordem Mundial

Após a Europa “conquistar o mundo”(1), criou-se uma ordem mundial, onde, os países centrais ou colonizadores, exportavam bens manufaturados para as colônias, a preços elevados e importavam grandes quantidades de matérias-primas ou gêneros agrícolas a baixos preços dos países recém colonizados. A esse comércio mundial deu-se o nome de Divisão Internacional do Trabalho.
A divisão internacional do trabalho foi resultado do desenvolvimento do capitalismo, que acabara de nascer na Europa e que se caracterizava pela diferença entre o centro, que exportava produtos manufaturados ou industrializados, e a periferia, exportadora de bens primários. Além disso, a periferia fornecia muito mais do que recebia, e esses bens eram fabricados com intensa exploração da força de trabalho. Logo, possuíam uma balança comercial deficitária. No início, tratava-se de uma diferenciação entre metrópoles e colônias; mas depois da independência das colônias, a diferença passou a ser entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos.
Entre as antigas colônias devemos destacar os Estados Unidos que tive um grande crescimento econômico após sua independência e, já no final do século passado, passa a ser o país com maior produção industrial do mundo.
Após a Segunda Guerra Mundial, com a nova ordem econômica internacional forjada em Bretton Woods, o Sistema Monetário Internacional foi restaurado, novas regras para o Comércio Internacional foram estabelecidas através da criação do Acordo Geral de Tarifas de Comércio – GATT, intensificando-se o fluxo de capitais internacionais e criando o BIRD e o FMI. Portanto, o mundo inicia um processo de regulação e estruturação do comércio em geral.
CHESNAIS (1995) “Os grandes grupos industriais ou operadores financeiros, que acabam de recuperar uma liberdade de ação que não conheciam desde 1929, ou talvez mesmo desde o século XIX, estão ainda menos dispostos a ouvir falar de políticas mundiais coercitivas”.
Os efeitos benéficos da abertura das economias mundiais feitas após a Segunda Guerra Mundial, trouxeram desequilíbrio para as economias de algumas nações, pois, nem todos estavam preparados para esses acontecimentos. Principalmente as nações periféricas que viram lentamente suas economias sendo invadidas pelas multinacionais. Então, o comércio mundial apresenta-se em expansão e propicia o aparecimento de novos países neste cenário, os NICs. Contudo, os países centrais continuam a dominar a tecnologia e importar matéria-prima a baixos preços das nações periféricas. Isso perdura até a crise do fordismo, quando os países centrais, perdem competitividade em função dos elevados custos de produção em todos os setores da economia. Então, as MNCs iniciam um processo mais acentuado de migração para os países periféricos, sobretudo nos NICs. Entre os NICs podemos destacar os “Tigres Asiáticos”, México, Brasil, Argentina e República Sul Africana, que passam a receber investimentos externos e dividir uma pequena parcela do mercado mundial com as principais nações.
Então, assistimos a o surgimento de uma nova organização mundial do trabalho, onde os países periféricos passam a exportar produtos industrializados e a importá-los também. Esse período foi chamado de intra-industrial. Percebe-se claramente que as nações desenvolvidas, por necessidade de mercado investem nos países periféricas, mesmo que esses venham ameaçar a hegemonia das nações centrais.
MATTOSO (1995) “Os Estados Unidos viram questionada sua hegemonia econômica desde meados dos anos 60, mas mantiveram-se dominantes nos campos diplomáticos, estratégicos e militar.” Embora a ameaça sofrida pelos Estados Unidos vinha de outras nações centrais, principalmente Japão e Alemanha, o grande fluxo de saída de capitais do país também preocupava os homens do governo e justificava ainda mais a necessidade dos países desenvolvidos em terem um mercado forte.
A preocupação norte-americana é fortalecida com o elevado índice de desemprego criado pelo fordismo, que se agravava a cada ano. CHESNAIS (1996) “Os efeitos do desemprego são indissociáveis daqueles resultantes do distanciamento entre os mais altos e os mais baixos rendimentos, em função da ascensão do capital monetário e da destruição das relações salariais estabelecidas entre 1950 e 1970”.
No início da década de 80, em resposta à momentânea crise americana, acontece uma significativa desvalorização do dólar, em contrapartida os Estados Unidos aumentaram a taxa de juros internos e então, observa-se um grande investimento de outros países, principalmente do Japão na economia Americana. A própria criação do G-7 propiciou uma maior internacionalização dos investimentos e tanto Japão, quanto Alemanha, além de muitos outros países europeus investiram externamente, principalmente nos NICs e países periféricos europeus(5).
COUTINHO (1995) “(…) os Estados Unidos e sua economia começam a sentir os efeitos da ascensão dos parceiros/competidores. Japão e Alemanha, por exemplo, reconstruíram sistemas industriais e empresariais mais novos e mais permeáveis à mudanças tecnológicas e organizacional e os novos industrializados da periferia ganharam maior espaço no volume crescente do comércio mundial”.
Porém, mesmo havendo um grande investimento dos países centrais em países periféricos, a maior parcela dos investimentos dos países centrais, acabou sendo mesmo em outros países centrais, até mesmo por uma questão de segurança, pois muitas economias periféricas não ofereciam estabilidade política para grandes investimentos.
PÁDUA – LIMA (1997), “Do ponto de vista da Economia Internacional, o traço marcante desde a década de 80 foi a existência persistente da profundos desequilíbrios dos Balanços de Pagamento que ocorreram simultaneamente – embora com conseqüências distintas – tanto nos países altamente industrializados quanto naqueles em desenvolvimento.”
Quando falamos de investimentos externos, estamos falando sobretudo dos países pólos, ou seja, das principais economias do mundo neste momento econômico.
Os países centrais, mais do que nunca concentram seus investimentos dentro da tríade, pois, a grande concorrência no campo da competitividade também os grandes mercados consumidores ali se encontram, em função do montante investido em P&D.
HIRST (1998) “O investimento externo direto continua maciçamente concentrado nos países avançados. Dá-se uma integração maior, sobretudo, entre os três maiores blocos da Tríade: América do Norte, União Européia e Japão… os membros da Tríade investem principalmente em cada um dos demais e em outros países avançados”.
Essa centralização de capitais nos países membros da tríade, abrem espaço para uma “nova etapa do capitalismo” que é a globalização.
A partir do consenso de Washington, os países emergentes começaram a receber maiores empréstimos e suas dívidas com bancos passam a ser convertidas em títulos que vão ser lançados no mercado. Então, esses países para participarem da globalização, teriam que provocar grandes reformas no estado, fazer uma desregulamentação financeira, criar uma maior abertura comercial e fazer uma ampla privatização, ou seja, instituir uma política neoliberal. Nos anos 90, assistimos ao processo final de criação da globalização, quando da integração dos países periféricos. Nesse novo processo, os países centrais estão se especializando na produção de equipamento com alta tecnologia, enquanto os países periféricos se especializam em produzir equipamentos com baixa tecnologia, em função da qualidade de sua mão-de-obra.
A globalização só se concretizou com a criação dos mercados regionais: como é caso da EU, onde todas as grandes potências européias atuam juntas para aumentar cada vez mais suas participações no cenário mundial.
No outro lado a ASEN, como a presença do Japão e dos Tigres que também não podemos desprezar pelo seu potencial de produção.
No lado americano, o ALCA não sai do papel e o NAFTA fica limitado ao potencial dos Estados Unidos e do Canadá, pois o mercado consumidor do México é bastante restrito.
Logo, está sendo através da globalização da economia que os demais países, principalmente da tríade, estão conseguindo fazer frente ao império americano. Resta saber até quando que a União Européia e o APEC (Japão) conseguiram se manter nesta disputa em pé de igualdade. Pois a versatilidade norte-americano sempre conseguiu dar o troco em curto espaço de tempo.
Portanto, hoje vivemos uma nova Divisão Internacional do Trabalho, onde todos os países pertencem a um único mercado – A Globalização – contudo, com uma série de barreiras locais, criadas pelos mercados regionais.

Conclusão

Durante muitas décadas o mundo foi dominado pelo capitalismo comercial, onde as principais potências econômicas do planeta que eram os países europeus, dominavam o comércio mundial, criando verdadeiros impérios com inúmeras colônias em todas os continentes.
Após superar a destruição provocada pela Segunda Guerra, a economia mundial voltou a crescer num ritmo mais acelerado do que antes. Dentro deste quadro de prosperidade, as empresas dos países industrializados assumiram proporções gigantescas. Tornando-se grandes conglomerados que estão cada vez mais se expandindo pelo mundo afora, atuando além das fronteiras dos países nos quais surgiram e onde se encontram suas matrizes. Essas empresas encarregam-se de “mundializar” não somente a produção, mas também o consumo.
Contudo, essas transformações foram criando vários cenários na economia mundial. Sempre com o amplo domínio dos países desenvolvidos. Porém com a globalização, alguns países periféricos podem tomar proveito e melhor estruturar suas economias.
Tivemos por várias vezes divisões internacionais do trabalho com características diferentes, com o novo paradigma – a globalização – o mundo terá que repensar essa divisão, quem sabe até criar uma outra, pois a realidade está alterada.

 

Bibliografia

-          CHESNAIS, François: A Mundialização do Capital. Ed. Xamã, São Paulo, 1996.
-          COUTINHO, Luciano: A Terceira Revolução Industrial e Tecnológica: as grandes
             Tendências de mudanças. Revista Economia e Sociedade. São Paulo, agosto 1992.
-          HIST, Paul & THOMPSON, G: Globalização em Questão: a economia internacional e as
            possibilidades de governabilidade. Editora Vozes; Petrópolis, 1998.
-          GONÇALVES, R., BAUMANN, R. & CANUTO, O.: A Nova Economia Internacional: uma
            perspectiva brasileira. Ed. Campus, Rio de Janeiro, 1998.
-          MATTOSO, Jorge: A Desordem do Trabalho. Ed. Scritta, São Paulo, 1995.
-          PÁDUA – LIMA, Maria L. M. Instabilidade e Criatividade nos Mercados Financeiros
            Internacionais. Bienal, São Paulo, 1995.
-          TAVARES, Maria da C. A Retomada da Hegemonia Norte-Americana. Ed. Vozes
            Petrópolis, 1997.


(1)   Expressão usada pelo autor para designar a descoberta da América, da Oceania e a tomada de posse das colônias da Ásia e da África.


(5) Espanha, Portugal, Grécia etc.

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