O MEU HERÓI
Quando se fala tanto em salvadores, são Juízes, são
mascarados, são justiceiros e outros seres, meu ídolo é outro. Uma pessoa
simples que só tinha a inteligência como base de tudo.
Num mundo de problemas sociais, sem rumo definido,
no qual diz respeito às soluções para as resoluções no âmbito social e
econômico, aparece uma luz no fim do túnel. Lá do interior, vem um menino
pobre, negro e que cursou geografia. Que sofreu três níveis de preconceito.
Como nossa cultura é provinciana, ninguém que não é
do eixo Rio – São Paulo, ou que veio de fora do país, tem direito e respaldo à
posicionar-se com relação aos problemas do mundo, pois quem é do interior, na
ótica provinciana não tem conhecimento de nada a não ser de roça. Ainda mais se
essa pessoa não é um doutor. Formado em Geografia, o que é isso? Só serve para
dar aula e os professores vivem morrendo de fome. Coitado dele.
Um exemplo disso se dá no futebol, você não pode
torcer só para um time de Santa Catarina, Rio Grande do Sul ou Paraná. Para o
povão se faz necessário que além desse time, você torça também para um do Rio e
outro de São Paulo, pois são esses que passam na televisão.
O segundo preconceito vem com a etnia, pois o
cidadão que estamos falando é negro e não é do centro do país e sim da
periferia, não canta música baiana e sim pensa. Será que ele tem espaço? Embora
o Brasil posiciona-se como o segundo país com maior população negra do mundo,
nossa cultura provinciana nos faz pensar que somos europeus e muitos se
orgulham em dizer, eu sou italiano, alemão etc. embora nem conheçam esses
países. Imaginem, então, um negro impondo sua forma de pensar.
O terceiro preconceito diz respeito à sua família,
pois Milton Santos era um Santos e não um Bragança. A família Santos não fez
parte de nenhuma oligarquia ou sequer é uma família tradicional dos grandes
centros. Logo, não dá para depositar confiabilidade em um cidadão comum de
qualquer canto do país. E, para completar seu Currículum ele fazia oposição ao
Governo.
Quando
Milton Nascimento e Fernando Brant, escrevem a letra da música Notícias do Brasil, “A novidade é que o
Brasil não é só litoral. (…) Ficar de frente para o mar e de costas para o
Brasil não vai fazer deste lugar um bom país.” Ele está querendo retratar
exatamente esse fato, um cidadão com as características aqui apontadas pode ser
sim uma pessoa muito especial.
O Geógrafo
Milton Santos teve dificuldades de se fazer entender no Brasil. Foi expulso do
país e lá no exterior acabou sendo reconhecido como um grande Professor, um
grande inovador na forma de pensar e tornou-se um diferencial na Geografia,
Sociologia e Política mundial.
Na sua
volta ao Brasil também teve seu reconhecimento, porém bem menor que aquele
merecido ou obtido no exterior.
Milton
escreveu muitos livros e inúmeros capítulos, artigos e papers, principalmente
sobre desenvolvimento urbano, sociedade e pensamento geográfico. Foi professor
da USP e palestrante, além de pesquisador.
Embora da
família Santos, Negro, Pobre, Filho de Agricultor, Vindo do Interior, Torcedor
do Galo Mineiro, Esquerdista e Estudante de Geografia, Milton Santos fez
história e é um dos brasileiros mais respeitados no exterior. Embora falecido,
não vamos deixar de lembrar-se dele aqui, pois seus ensinamentos e sua história
de vida mostram que é possível ser diferente mesmo não fazendo o que a ditadura
social impõe.
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