A MÃO-DE-OBRA EXCEDENTE PARA O CAPITALISMO - O EXÉRCITO DE RESERVA


Em regra geral, a economia é baseada pela lei de oferta e procura. Também o índice de empregos tem um comportamento bastante similar, pois quanto maior for a oferta de empregos, tanto maior será a exigência de benefícios e salários feita pelos candidatos a esse emprego e vice-versa.
Também é regra manter os operários empregados, pois somente com um bom número da população empregada e consumindo é que os capitalistas conseguem sobreviver. Logo, é importante, no âmbito capitalista que haja empregabilidade, porém nunca com índice de oferta maior que a procura para que não haja supersalários. Segundo Beltrand de Mandeville, analisado por Marx (1973, p. 153) “Se é preciso evitar que os operários morram de fome, é preciso também não lhes dar o que economizar”. Ou seja, na ótica capitalista não se pode dar fôlego ao operário, apenas comida, ou como já frisou César no Império Romano, “dar pão e circo”.
Toda vez que os salários tendem a ficar muito baixos, os capitalistas podem compensar seus operários lhes oferecendo a possibilidade de fazer sobre-horas, ou seja, possibilitar ao operário esticar a jornada de trabalho, para que haja um maior ganho salarial, logo o operário pode realizar alguns de seus sonhos de consumo e voltará a produzir mais, pois estará contente. Se a produção exigir um maior empenho em sobre-horas, contrata-se mais operários e volta-se ao patamar inicial. Pois não é interessante que o operário faça muitas sobre-horas para não ficar estressado ou doente. Na visão capitalista, tudo é bem controlado e medido.
Se a economia entra em crise, o capitalista afasta um certo número de operários, com isso diminui o custo com salários, gerando, assim, um acréscimo de desempregados que por sua vez diminuem o valor dos salários pedidos em novas negociações, logo é o capitalista que sai ganhando, mesmo com a crise.
Sobre o aumento dos salários, Marx (1973, p.155), comenta que: “A alta dos salários não é propiciada nem pelo tamanho real da riqueza social nem pela grandeza do capital já adquirido, mas unicamente pelo aumento contínuo da acumulação e a rapidez dessa acumulação”. Isso vai ocorrer se for considerado a divisão do capital constante e a força de trabalho permaneça a mesma.
Se for considerado que pode haver um aumento do nível de investimento de capital para diminuir a necessidade de mão-de-obra, pode-se ter um acréscimo na produtividade e logo uma acumulação de capital, ou seja, como disse Marx, tem-se uma produção de mais-valia. Uma vez sabedoras desse processo as indústrias iniciam um processo acelerado de substituição de força de trabalho por investimento de capital, adquirindo assim, mais eficiência técnica e se transformando em locais de menor aceitação de operários – a mecanização ou automação –, logo, os poucos operários que mantém seus empregos passam a controlar a pedida de elevação de salários.
Com uma acumulação de capital crescente, não se há uma preocupação com o operariado, logo até se pode absorver um número adicional, porém esse adicional não acompanha o crescimento natural da população operária, então, este excessivo número de filhos de operários que ingressam no mercado de trabalho, além do número de novos empregos ofertados, acabam se transformando em massa de manobra dos capitalistas.
Sobre o excedente de mão-de-obra operária Marx (1973, p.161) escreveu:
“Ela forma, para a indústria, um exército de reserva sempre disponível, e do qual o capital tem inteira propriedade, como se ele o tivesse criado com seus próprios gastos. Ela cria para as necessidades variáveis do capital um material humano sempre pronto e independente dos limites do real aumento populacional”.
Para ocupar essa força excedente seria necessário criar uma generalizada expansão do capital aplicado, o que nem sempre é estratégico para os detentores do capital.
Se o operário oferece mais tempo de dedicação, ou seja, trabalha mais, logo, terá mais acumulação de capital e o capitalista ganha ainda mais. Esse tempo maior de trabalho ou sobre trabalho pode formar um exército de desempregados ou como define Marx, exército de reserva.
“O trabalho excessivo dos operários empregados engrossa os quadros do exército de reserva, ao passo que inversamente à pressão, cada vez maior, exercida pelo exército sobre os trabalhadores efetivos, graças à concorrência, força estes últimos a trabalhar sempre mais e a se submeter às submeter às exigências do capital. Condenando uma parte da classe operária a uma ociosidade forçada, pelo trabalho excessivo da outra parte, o capitalista particular encontra o meio de se enriquecer. E a formação de exército industrial de reserva as faz numa medida correspondente à acumulação social. A prova da importância desse fator na constituição da superpopulação relativa nos é dada pela Inglaterra. Este país dispõe de meios extraordinários para ‘economizar’ trabalho”. Marx (1973, p. 162)
Em suma, os movimentos gerais do salário são exclusivamente regulados pela extensão e contratação do exército industrial de reserva, que correspondem às mudanças de período do ciclo industrial.
“Eles são, assim, determinados pelo movimento do número absoluto da população operária, e sim pela proporção na qual a classe operária se reparte em um exército de reserva, pelo aumento ou diminuição do número da superpopulação e pelo modo em que essa superpopulação é absorvida ou liberada.” (Marx, 1973, pág. 163)
Mas realmente quem é que faz parte desse tão falado exército de reserva? Nos dias de hoje, certamente falar-se-ia dos desempregados ou até mesmo dos subempregados, ou seja, os que não conseguem trabalho, por não possuírem qualificação suficiente. Pois nem sempre foi assim, na história industrial, o exército de reserva está sempre associado ao excesso de oferta de mão-de-obra, como cita Marx (1972, pág. 168)
“Enfim o último resíduo da população relativa vegeta na esfera do populismo. Sem falar nos vagabundos, nos criminosos e nas prostitutas, ou seja, no verdadeiro proletariado dos miseráveis e da ralé, essa camada social compreende três categorias. Em primeiro lugar, aqueles que são capazes de trabalhar. Um estudo superficial da estatística do pauperismo inglês nos demonstra que toda crise aumenta o número desses indivíduos que é diminuído com a retomada dos negócios. Em seguida os órfãos e crianças abandonadas. São todos candidatos ao exército industrial de reserva e, quando os negócios prospera, como em 1869 por exemplo, eles são imediatamente recrutados em massa para o exército ativo de trabalho. E, por último, os desclassificados, viciados ou incapacitados para o trabalho. Entre estes, é preciso contar sobretudo os indivíduos que a divisão do trabalho, fixando-os em determinados ramos, tornou-os inutilizáveis; os que ultrapassam a idade normal para o trabalho; finalmente, os vitimados na indústria, os mutilados, os doentes, as viúvas cujo número cresce aceleradamente com as máquinas perigosas, as minas, as fabricas de produtos químicos etc.”
Ou seja, todos os que são frutos do capitalismo selvagem, ou das suas conseqüências absurdas de produção.

Conclusão
Os trabalhadores que são expulsos da terra por diversos motivos, sempre acabam vindo morar na periferia das grandes cidades e por serem camponeses possuem dificuldade de encontrar uma ocupação. Logo, tornam-se mão-de-obra não especializada e passam a viver sem dignidade. Essa gente tem um grande valor para a economia capitalista pois tornam-se a mão-de-obra excedente ou de reserva. Um verdadeiro batalhão de reserva que acaba servindo como trunfo para os grandes capitalistas. Pois cada vez que alguém tenta negociar salário, eles alegam que há gente sem emprego e que aceita trabalhar por menos. O que é real pois como esse contingente não possui mecanismo para negociação, acaba aceitando qualquer emprego e qualquer salário, então transforma-se em massa de manobra dos capitalistas.
Saiba mais, assistindo este vídeo EXÉRCITO DE RESERVA

Comentários

  1. Gostei muito da maneira clara como foi explicado o acumulo de capital e o excedente de mão de obra. Estou fazendo um trabalho que aborda esse assunto e achei seu texto de fácil leitura e entendimento, obrigada.

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  2. Achei seu texto de fácil entendimento e muito esclarecedor, confesso ter tido muita dificuldade para entender todo o processo de acumulação de capital e excedente de mão de obra.

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