TRATAMENTO DE LODOS DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA
Muitos não sabem, mas produzir água potável gera resíduos, mesmo a água sendo de fonte natural, sempre trás material carreado e precisa ser tratada. veja como:
1 Introdução
A indústria
da água de abastecimento, quando utiliza o tratamento completo ou convencional
(coagulação, floculação, decantação e filtração), transforma água inadequada
para o consumo humano em um produto que esteja em acordo com o padrão de
potabilidade, utilizando, para isso, processos e operações com a introdução de
produtos químicos, gerando resíduos. Estes têm origem nos decantadores, na
lavagem dos filtros e na lavagem dos tanques de preparação de soluções e
suspensões de produtos químicos.
O
lodo de ETA é composto por hidróxidos de alumínio, partículas inorgânicas como
argila e areia, colóides de cor e microorganismos, incluindo plâncton e outros
materiais, orgânicos e inorgânicos, removidos da água que está sendo tratada.
A quantidade de lodo produzido em uma ETA
depende de fatores como partículas presentes na água bruta, que conferem
turbidez e cor à mesma; concentração de produtos químicos aplicados ao
tratamento; tempo de permanência do lodo nos tanques; forma de limpeza dos
mesmos; eficiência da sedimentação; entre outros.
Análises
dos lodos das ETAs de São Carlos-SP e Piracicaba-SP confirmaram a alta
concentração de metais como o alumínio e ferro. A toxicidade do alumínio tem
sido pouco estudada nos meios científicos, apesar de já se possuírem dados que
demonstram algumas preocupações quanto às ações deste elemento. Experiências
realizadas com trutas levaram à conclusão de que o alumínio, em dosagens que
variam de 0,2 a 0,5 mg/L, causavam a morte dessa espécie de peixe.
Hall
et al promoveram estudos, adicionando
alumínio em pequenos rios e efetuando o monitoramento biológico. Esse aumento
de concentração de alumínio provocou alterações físicas, químicas e biológicas
nessas águas. Observou-se que as comunidades macrobentônicas sofreram variações
em sua estrutura, distribuição, abundância e diversidade. Houve redução da
tensão superficial, provocando a alteração na biota aquática.
Davison
et al detectou que pacientes submetidos à diálise
sofriam de demência quando a água utilizada possuía concentração de alumínio
acima de 0,08 mg/L.
Para
Thomas M. Redictit, o alumínio tem uma importância crítica em doenças
cardiovasculares, como a coagulação cardiovascular. Há ainda fortes suspeitas
de que altas concentrações de alumínio podem estar diretamente relacionadas ao
mal de Alzheimer.
Estudos
em 186 ETAs mostraram que a concentração de alumínio na água de abastecimento
pode aumentar com a utilização do sulfato de alumínio como coagulante.
Análises
realizadas em cursos d´águas, antes e após o lançamento dos resíduos (lodo),
contatam um aumento de cerca de 100 vezes na concentração de sólidos totais
(ST) e na BQO, além de forte elevação da cor e da concentração de sólidos
sedimentáveis.
A
Organização Mundial da Saúde (OMS), bem como a portaria nº 36/MS do Ministério
da Saúde estabelecem o valor máximo permitido de alumínio em 0,2 mg/L para
águas potáveis. A Comunidade Européia e a American Water Works Association
(AWWA) estabelecem um máximo de 0,05 mg/L.
Características
dos resíduos gerados nos decantadores da ETA de São Carlos-SP. Vazão de 500 L/s
– Coagulante utilizado: sulfato de alumínio.
PH - 6,4
DQO - 5.600
mg/L
Sólidos
Totais (ST) - 30.275
mg/L
Sólidos
Totais Fixos (STF) - 22.324 mg/L
Sólidos
Totais Voláteis (STV) - 7.950 mg/L
Sólidos
Totais Suspensos - 27.891 mg/L
Nitrogênio
total (NTK) - 280 mg/L
P
– PO4 -
97,8 mg/L
Levando-se
em consideração a legislação brasileira pode-se observar que as concentrações
destes despejos provocam degradação da qualidade ambiental, afetando condições
estéticas e lançando materiais em desacordo com os padrões.
Para
a redução de volume, tratamento e disposição dos lodos de ETAs têm sido
utilizados alguns métodos tradicionais já consolidados para resíduos de
estações de tratamento de esgotos. A água livre do lodo deve ser removida de
forma rápida para que o tempo de operação seja mínimo. Os sólidos resultantes
podem ser dispostos em aterros ou utilizados em sistemas de codisposição com
matrizes de cimento ou entulhos.
A
redução do volume dos rejeitos das ETAs pode ser realizado com a remoção da
água livre nos interstícios dos sólidos. Vários podem ser os métodos de remoção
de água, podendo ser citados:
2 Pré-tratamentos
2.1 Adensamento
O adensamento tem por finalidade remover o máximo de água possível
antes da desidratação final do lodo.
Pode ser um processo contínuo, como é o caso do adensamento por
gravidade geralmente aplicada em instalações menores, ou pode ser através do
processo de batelada.
No processo contínuo, o lodo entra próximo ao centro através de um
sistema defletor no tanque de adensamento. O lodo flui para baixo formando um
manto de lodo e tornando perceptível a superfície de separação da água clarificada
que é retirada na periferia do tanque. O lodo por sua vez, é movido
mecanicamente através de um raspador para um poço de descarga.
No adensamento por batelada o lodo é conduzido até um tanque e
deixado decantar por algumas horas, assim o sobrenadante pode ser removido em
função da deposição do lodo adensado no fundo do tanque. Após, nova carga de
lodo á adicionada ao tanque reiniciando o processo. Geralmente os adensadores
por batelada possuem o fundo em forma de tronco de pirâmide ou cone invertido para
facilitar a retirada do lodo adensado.
Pode-se aplicar também o adensamento por flotação, onde as
substâncias sólidas presentes no processo, com densidade menor que a do líquido
de suspensão, flutuam sobre a superfície do mesmo. Fazem-se as partículas sólidas
flutuarem em função da inserção de microbolhas que aderem as partículas,
diminuindo sua densidade. A obtenção das microbolhas é conseguida através da
recirculação, sob pressão, de uma pequena quantidade da água clarificada,
saturada com ar através de um compressor. Ao entrar no tanque, esta água tem
sua pressão diminuída bruscamente, liberando uma grande quantidade de bolhas de
ar.
A eficiência deste processo está diretamente relacionado à
quantidade e ao tamanho das microbolhas formadas.
3 Sistemas Naturais
3.1 Leitos de secagem
O
método de leitos de secagem é utilizado para remoção de água de rejeitos de
diversos tipos de tratamento de águas residuárias e de abastecimento desde o
inicio do século XX, sem mudanças consideráveis em sua estrutura física. As
evoluções ocorridas neste sistema foram leitos de secagem a vácuo, leitos de
secagem de tela em cunha, leitos tradicionais e leitos pavimentados.
O
tempo de remoção de água dos lodos é fator fundamental a ser atingindo na
operação de remoção da água. Nos processos tradicionais de leitos de secagem,
em que o meio filtrante é constituído por areia de granulometria específica,
apoiada sobre camada suporte de brita, o tempo de remoção de água constitui-se
na somatória do tempo de drenagem e de evaporação da água.
Dessa
forma, Cordeiro (1993,2000) estudou a possibilidade de modificação dessa
estrutura e observou que a colocação de manta de geotêxtil sobre a camada
filtrante do leito, proporcionava a remoção mais efetiva da água livre dos
lodos, mesmo utilizando areia de construção com espessura de 10 e 5 cm, como
meio filtrante. Os estudos evoluíram e, no PROSAB 2, a areia foi removida e o
leito foi constituído por uma camada de brita 01 a 5 cm e, sobre esta, manta
geotêxtil, o tempo de drenagem da água livre diminuiu bruscamente.
3.2 Lagoas de lodos
As
lagoas, normalmente mais profundas que os leitos de secagem, apresentam custo
superior, porém com uma capacidade volumétrica maior. Seu tamanho e forma são
variáveis com a topografia do local, procurando-se sempre minimizar o movimento
de terra, sendo sempre recomendável à construção de um maior número de
unidades, com o objetivo de aumentar a flexibilidade operacional, do que a
construção de uma única grande unidade.
A
desidratação ocorre em três fases: drenagem, evaporação e transpiração. O
projeto de lagoas de lodos inclui: sistema de tubulação de entrada de lodo e
saída do decantado, sistema de bombeamento e equipamentos para a remoção
mecânica de lodo.
Recomenda-se que a profundidade das lagoas
varie de 0,7 a 1,4 m, apesar de existirem lagoas que atinjam 3,o m de
profundidade. O sobrenadante decantado pode ser removido continuamente ou de
forma intermitente, podendo retornar ao sistema de tratamento. O tempo para
desidratação pode variar bastante, principalmente quando são consideradas as
condições climáticas.
.
4 Sistemas mecânicos
4.1 Filtro-prensa
É
um equipamento capaz de produzir uma torta com elevado teor de sólidos adequada
a direta disposição em aterros sanitários. Estes equipamentos trabalham
comumente por batelada, apesar de existirem unidades de regime contínuo. São
formados normalmente por uma série de placas paralelas e dispostas umas ao lado
da outra formando câmaras que serão preenchidas com lodo proveniente de bombas
de deslocamento positivo. O meio filtrante, instalado entre as paredes internas
das placas será responsável pela retenção dos sólidos, deixando passar o
filtrado através de canais cortados na superfície das placas.
Para
auxiliar o sistema na filtragem e formação da torta no filtro, muitas vezes há
a necessidade de condicionar o lodo com substâncias como a cal, cimento ou
cinza que promoverão a redução do coeficiente de compressibilidade do mesmo,
resultando no aumento do teor de sólidos da torta.
A
escolha da tela filtrante deve ser efetuada com bastante cuidado, a fim de
evitar que haja aderência de material na placa. A limpeza das telas de
filtragem deve ser efetuada periodicamente para remoção de material acumulado
através de jatos de água à alta pressão.
4.2 Prensa desaguadora
Da
mesma forma que o filtro prensa, a prensa desaguadora permite que os resíduos
provenientes do processo possam ser depositados diretamente nos aterros. A
prensa recebe o lodo condicionado quimicamente transportando-o sobre uma tela
que tem a função de filtro do sistema. Num primeiro estágio ocorre a drenagem
da água liberada pelo condicionamento químico através da porosidade da tela. Em
seguida o lodo passa por uma cunha formada por duas telas sobrepostas
tencionadas por sistemas de rolos expelindo a água por compressão.
Neste
estágio a pressão de compressão, relativamente baixa, forma um tapete com o
lodo, onde sem seguida, através da diminuição do diâmetro dos rolos que
conduzem a tela é efetuado o aumento da pressão da mesma sobre o lodo, drenando
mais água através da porosidade da tela.
A
seleção da tela é um fator fundamental no funcionamento da prensa desaguadora
que depende de fatores relacionados às propriedades de suspensão e objetivos de
filtração da torta, podendo estas serem constituídas de algodão, poliéster,
fibra de aço, teflon, etc.
A
eficiência da prensa depende essencialmente das características do lodo
aplicado, de seu condicionamento, do tempo de prensagem e da pressão aplicada
pelas telas, bem como, do tipo e abertura da malha da tela.
4.3 Centrífugas (Decantadores
centrífugos)
Uma
centrífuga consta de um tambor cilíndrico com uma seção cônica convergente em
uma extremidade que gira em torno de seu eixo a uma velocidade entre 300 e 4000
rpm. No interior do tambor há um transportador tipo parafuso que gira a uma
velocidade ligeiramente diferente do tambor, raspando assim o lodo centrifugado
para fora da máquina
A
adição do lodo se dá através de um tubo concêntrico próximo a seção cônica. A
força centrífuga gerada faz com que os sólidos se depositem nas paredes do
tambor, sendo estes transportados pela rosca sem fim para a seção cônica e
removidos da câmara de separação enquanto que o líquido clarificado é removido
no outra extremidade da câmara. As características da água e do lodo retirado
estão diretamente ligados ao diferencial de velocidade entre o tambor e o
parafuso que varia entre 2 e 20 rpm.
O
princípio básico de funcionamento é o mesmo que de um adensador por gravidade.
Porém, no caso do adensador, é a aceleração da gravidade que gera a força
necessária a sedimentação, enquanto que na centrífuga, a força radial gerada se
torna de 500 a 4000 vezes superior à força gravitacional.
4.4 Filtros a vácuo
Consiste
em tambores rotativos suspensos horizontalmente em recipientes que contém o
lodo. A superfície do tambor é dividida em setores que servem de suporte para o
meio filtrante. A pressão negativa (sucção) é aplicada em cada setor por meio
de tubos internos e a superfície do tambor é envolvida com o meio filtrante
(manta) através do qual a água é drenada para o tambor, passando através do
lodo. Os sólidos são depositados sobre a manta e removidos por raspadores para
fora do sistema. Pode-se obter teor de sólidos na torta de até 40% , porém não
é indicado para lodos produzidos com sulfato de alumínio devido à natureza
gelatinosa dos mesmos. Neste caso é necessário o condicionamento dos lodos, com
altas dosagens de polímeros.
Este
método apresenta maior custo operacional em relação aos outros, além de
problemas com o meio filtrante.
5 Disposição final do lodo
As
ETAs podem ser enquadradas como atividade poluidora, devido às características
do lodo gerado no processo, conforme previsto na lei 6.938/81 em seu artigo 3,
incisos II e III (alíneas c, d e e), inciso IV.
Entre
algumas alternativas de disposição utilizadas, temos:
-Lançamento
em cursos d’água:
O
lançamento em rios pode ser feito em certas condições e dependendo de permissão
das autoridades do meio ambiente em função das características e do volume do
curso de água onde o lodo é descarregado.
-Lançamento
na rede de esgotos sanitários:
Este
método transfere os problemas para a estação de tratamento de esgotos.
-Aplicação
ao solo:
Consiste
em esparramar o lodo no solo natural ou na agricultura e está sendo considerada
uma alternativa de disposição viável. O lodo pode ser aplicado na forma
líquida, semi-sólida ou sólida. Os custos de transporte e a pouca aceitação
pelos lavradores são os principais obstáculos para um maior desenvolvimento
deste método.
-Aterro
sanitário:
Devido
ao custo elevado, este método é geralmente o último a ser escolhido. Os lodos
provenientes das ETAs geralmente não apresentam periculosidade, podendo serem
lançados em aterros próprios ou municipais.
O
critério básico para escolher a alternativa de disposição é o conteúdo de
sólidos, geralmente limitado como segue:
-Descarga
em um curso de água: 1% a 8%
-Descarga
na rede de esgotos sanitários: 1% a 8%
-Aplicação
no solo: 1% a 15%
-Aterro
sanitário: 15% a 25%
6 Referências básicas
RICHTER,
C. A. Tratamento de lodos de estações de
tratamento de água, São Paulo: Editora Edgard Blucher, 2001.
ANDREOLI,
C. V. (coordenador) Resíduos sólidos do
saneamento: processamento, reciclagem e disposição final, Rio de Janeiro:
Rima, ABES, 2001.
REALI
M. A. P. (coordenador) Noções gerais de
tratamento e disposição final de lodos de estações de tratamento de água,
Rio de Janeiro: Rima, ABES, 1999.
Olá.
ResponderExcluirTodos os processo de separação líquido sólido, o equipamento filtro prensa seria ideal para processo com menor volume.
Obrigado.
Fanequipamentos.
Olá.
ResponderExcluirNo processo de separação líquido solido o equipamento filtro prensa seria ideal para processo com meno volume.
Grato.
Fanequipamentos