A educação Ambiental e o Lixo na Sociedade


Nas últimas décadas muito se fala sobre EA – Educação Ambiental em todos os países e cidades do mundo. Mas será que nossos Professores estão preparados para transmitirem aos seus estudantes a verdadeira Educação Ambiental, aquela que irá servir para sua vida e não somente mais uma visão acadêmica de uma atividade utópica? Cita-se utópica, pois em muitos casos aquele ensinamento que se faz em sala de aula, nem mesmo o Professor cumpre, e quer que as crianças o façam. E a sociedade se está recebendo estes ensinamentos, por que produz tanto lixo na atualidade?
A EA deve ter uma inversão de valores para dar certo, ela terá que partir da prática social-comunitária para a acadêmica e não ao contrário como vem ocorrendo até então. Pois, se deve considerar o conhecimento trazido pelo educando, sua prática familiar e sua ação, partindo para uma formação acadêmica. Falar em reciclagem de papel, papelão, latas de alumínio para quem não está inserido em uma sociedade de consumo é o mesmo que plantar alimentos num deserto sem irrigação, jamais dará frutos.
Este trabalho de pesquisa justifica-se pois a Educação Ambiental que é apresentada nas escolas, na atualidade, está sendo apenas mais uma disciplina, está perdendo seu foco transformador e libertador de uma camada social, de uma cultura predatória. Porém, não é desconhecimento discente e sim um processo metodológico inadequado que faz com que uma grande revolução na educação passe a ser mais um instrumento acadêmico que pode ser fadado à falência, caso não reveja seu objetivo e sua importância como elo no combate à ignorância humana. Enquanto se fala e se faz tanto em sala de aula, na prática vê-se amontoar a cada dia mais montanhas e montanhas de lixo nas ruas de nossas cidades.
Se as atuais gerações não se pronunciarem sobre mudança na sua conduta em relação à ação antrópica, que legado será apresentado para as próximas gerações? Para que a atual geração deixe uma herança positiva, deve-se mudar práticas e ações que não trazem a sustentabilidade humana e assim reduzir a produção de lixo em nossas cidades.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

Segundo o MEC Ministério da Educação do Brasil, 2008, a EA no país teve seu início em 1981, com a criação da Política Nacional de Meio Ambiente (lei 6.938/81). Fato que provocou a inclusão da EA em todos os níveis de ensino. Em 1989, foi criado o Fundo Nacional de Meio Ambiente (lei 7.797/89), fundo que vem apoiar projetos de EA. Em 1992, criou-se o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e os Núcleos de EA do Ibama, como aporte para desenvolver essa atividade em todo o país.
Somente em 1994 criou-se o Programa Nacional de EA (ProNEA), pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ministério da Educação (MEC), Ministério da Cultura (MIC), Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que forçaram a implantação em 1995 da Câmara Técnica Temporária de EA do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA).
Em 1999, Política Nacional de Educação Ambiental (lei 9.795) e criação da Coordenação-Geral de EA no MEC e Diretoria de EA no MMA deu suporte para ser contemplada no PPA 2000-2003 (MMA).
Em 2002, houve uma revisão do ProNEA e em 2003 a EA é contemplada no PPA 2004-2007 (MEC) e cobre 100% do território nacional.
Nas escolas de ensino regular, inicialmente a EA aparece como parte do programa de ensino de Ciências e Biologia. Contudo, devido à formação Professores de Geografia reivindicam para si este trabalho. O fim deste impasse se dá quando em algumas escolas cria-se a cadeira de EA, independente dos demais programas e abre-se concurso para a titularidade.
Não se vê como solução ser este ou aquele profissional, nem este ou aquele programa a diferença deve estar na condução metodológica do processo, da preparação dos Professores que irão ministrar essas aulas.
Se educação é o ato de transmitir experiências por meio de ações ou exposições de ideias para uma determinada pessoa ou grupo e, percepção é o mesmo que sentir ou perceber o significado das coisas ou sensações, Educação Ambiental é a forma de se transmitir e perceber os signos das ações ou sensações para as demais pessoas ou grupos. Logo, toda ação educacional que integre as questões ambientais, que objetive mudanças de atitudes, que incentive a cooperação e a solidariedade, que pratique o respeito e a tolerância e que busque resgatar valores éticos hoje perdidos na nossa sociedade, pode ser chamada de Educação Ambiental.
O atual sistema de ensino requer transformações que valorizem a riqueza cultural e ambiental, não se pode mais aceitar o uso de livros didáticos, de cartilhas, apostilas ou outros materiais prontos para se fazer aulas no dia-a-dia das escolas, pois não há material que retrate melhor a realidade do acadêmico que seu próprio relato. As mudanças de percepção são necessárias para que um novo comportamento em relação ao ambiente possa ser alcançado. Isso deve ocorrer por meio de processos educacionais constantes, nos quais a educação ambiental deve estimular o desenvolvimento de uma nova consciência a respeito das relações do ser humano com o seu ambiente, produzindo novos comportamentos e conceitos capazes de levar as pessoas a se envolverem com tais questões, tanto de maneira formal, no ambiente escolar, como na comunidade, por meio de uma educação não formal.
                              
A PERCEPÇÃO AMBIENTAL

A percepção faz parte da natureza dos animais, é o instinto. Para sobreviver os seres humanos sempre perceberam a natureza, as épocas de plantio e colheita, as cores que indicam se os frutos estão ou não maduros, etc; contudo, com a mecanização, perdeu-se essa sensibilidade. Segundo Machado (1988), “cada pessoa tem sua própria percepção sobre o meio ambiente”, contudo Del Rio (19996) destaca que “mesmo sendo a percepção individual, existem recorrências comuns”, ou seja, não se pode pensar que o modelo no qual “eu” acredito seja o único e o certo.
A percepção, embora sempre tenha existido somente em meados do século passado passou a ser usado nas ciências. De acordo com Lynch (1997) a percepção ambiental passou a ser usado na Geografia – na década de 60 – abordando a ocupação humana nos ambientes sujeitos a riscos naturais, especialmente de inundações. Na Arquitetura e urbanismo, caracteriza-se pela análise de formas, a partir da qual constrói representações por meio de imagem ou mapas mentais da cidade.
O estudo da percepção voltado à educação ambiental, ou seja, como parte do processo de formação de conhecimentos e consequentemente, do sistema de valores, é fundamental, pois permite conhecer melhor as características, as ideias e os aspectos influenciadores do pensamento e do comportamento. É necessário maximizar a integração dos domínios cognitivo, afetivo e comportamental juntamente com a visão do conhecimento do todo, fazendo-se necessário à investigação da percepção das pessoas, as quais estão inseridas na comunidade ou sala de aula.

A PERCEPÇÃO AMBIENTAL COMUNITÁRIA COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO NAS AULAS DE EA

A partir do conhecimento da percepção individual e coletiva podem ser desenvolvidos programas e ações educativas voltadas à questão ambiental, que estimulem e provoquem mudanças de comportamentos, valores e de atitudes na comunidade ou grupo de estudantes. Logo, deve-se criar programas e projetos de caráter comunitário incentivando a participação popular. Só assim, pode-se ter o resgate da cidadania desse povo.


FIGURA 1: Fundamentos da educação ambiental (DIAS, 1999).

Os objetivos da EA podem ser divididos em categorias ou fundamentos (figura 1), conhecimento e compreensão; sensibilização e conscientização; ação participativa; atitudes e valores comportamentais; e habilidades. Juntando estas categorias tem-se um conjunto de valores capazes de desenvolver uma prática diferenciada de educação.
O fator mais importante que contribui para a especificidade da Educação Ambiental é, sem dúvida, sua ênfase na resolução de problemas práticos que afetam o meio ambiente humano (figura 2). Desta forma, ela é uma prática educacional sintonizada com a vida da sociedade. DIAS (1993), ressalta que ela só pode ser efetiva se todos os membros da sociedade participarem, de acordo com as suas habilidades, nas complexas e múltiplas tarefas de melhoria das relações das pessoas com seu meio ambiente. Isto só pode ser alcançado se as pessoas se conscientizarem do seu envolvimento e das suas responsabilidades.



FIGURA 2: Estratégia da educação ambiental (DIAS, 1993).

Para que haja uma mudança real. Faz-se necessário, pensar na formação de professores, no sentido de torná-los capazes de trabalhar a complexidade da vida de forma inter e transdisciplinar, derrubando barreiras que separam a escola da comunidade. Não se pode formatar professores, transforma-los em meros repetidores de discursos e incapazes de criar meios de transformação social-comunitário. Para isso, a escola superior precisa ser revista, deve incentivar a pesquisa e principalmente a extensão, destacar a criatividade e “ensinar” os estudantes a fazer e não copiar.
Uma aula não pode ser engessada, os professores não podem prepara-la por inteiro, deve-se deixar um espaço de interação. Logo, quem disser que vai “dar aula” está afirmando que seu trabalho não é bom. Uma aula de ser “feita” ou “ministrada”, pois não havendo interação, certamente não haverá qualidade. Uma aula de qualidade, tem a necessidade de pensar os problemas cotidianos para ampliar a democratização do espaço escolar e melhorar a qualidade, de forma que os resultados não se traduzam apenas em estatísticas, mas na aplicação dos conhecimentos transmitidos às pessoas ou grupos para viverem de forma construtiva e confiante.
Cada indivíduo percebe, reage e responde de modo diferente frente ao meio, através de suas atitudes. Tais respostas ou ações são, resultado das percepções, dos processos cognitivos, julgamentos e expectativas de cada indivíduo. Assim, o estudo da percepção ambiental é de fundamental importância para que se possa compreender melhor a inter-relação entre o homem e o ambiente, suas expectativas, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas. Diagnósticos de percepção realizados antes e depois da implantação de um programa ou de medidas de controle ambiental são ferramentas riquíssimas para avaliar e acompanhar a aceitação e o comprometimento dos membros da comunidade e pessoas envolvidas no processo.


LIXO NAS CIDADES

Muito se fala sobre questões de controle de resíduos, mas cada vez mais os caminhões de coleta de lixo estão abarrotados. Segundo o Ministério das Cidades, MC (2011), são 3.800.000 toneladas de resíduos urbanos coletados todos os dias nas regiões metropolitanas brasileiras. Mas, por que se produz tantos rejeitos?
Uma das explicações está na educação. Fala-se muito de reciclar, reutilizar..., mas esquece-se do mais importante, uma educação ambiental para o consumo. A atual geração é formada por consumidores “natos”, que procuram os alimentos semi-prontos e isso gera lixo.
Se fizéssemos uma campanha para consumir “produtos limpos”, ou seja, aqueles que possuem menos embalagens ou embalagens biodegradáveis, além de uma campanha de maior alcance para buscar melhores resultados com a reciclagem, certamente teríamos um bom resultado.
Mas que resultada é este? Uma população mais sadia e educada, produzindo menos lixo e, assim, tendo mais qualidade de vida.

REFERÊNCIAS:
·         BRÜGGER, P. Educação ou adestramento ambiental? Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1994.
·         DIAS, G. F. Elementos para capacitação em educação ambiental. Ilhéus: UESC, 1999.
·         DIAS, G. F. Educação ambiental, valores humanos e estilos de vida sustentáveis. Universa. V. 1, n. 1, Brasília, 1993.
·         MC: Ministério das Cidades, www.cidades.gov.br. Acessado em 26/06/2011.
·         OLIVEIRA, L. A percepção da qualidade ambiental. In: A ação do homem e a qualidade ambiental. Rio Calo: Associação dos Geógrafos/Câmara Municipal, 1983.


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