O BANCO DO BRICs, DIVISÃO DE PODERES DO FMI.
Nesta
semana tivemos em Fortaleza mais uma das chamadas reuniões da Cúpula de Líderes
dos BRICS (os representantes no mais alto nível dos governos do Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul), na qual o principal ponto de pauta era a formalização
da criação de um Banco de Desenvolvimento com capital de 50 bilhões de dólares
para financiar investimentos nos países do bloco.
Simultaneamente
avançar na organização de um fundo denominado Arranjo Contingente de Reservas
para atuar em momentos de crise concedendo linhas de crédito a países que
sofram dificuldades em seus balanços de pagamentos.
A ideia da criação desses organismos
cristalizou-se nos últimos meses a partir da convicção de que dificilmente
haverá progressos na tentativa de reforma que daria aos países emergentes mais
poderes nas votações do Fundo Monetário Internacional, conforme acordo de 2010,
que previa a ampliação de suas cotas. Entrando em vigor a reforma, o Brasil
passaria a ter aumentado o poder de voto de sua cota de 1,72% para 2,21%. O
acordo não prosperou, porque o governo dos Estados Unidos não conseguiu que o
Congresso aprovasse as mudanças combinadas, apesar das tentativas do presidente
Barack Obama. Ele chegou a incluir a reforma da participação dos países no FMI
dentro de um pacote que estabelecia a ajuda financeira à Ucrânia (que foi
aprovada no Congresso), mas não teve o mesmo sucesso no caso das cotas.
Em resposta à não cessão de espaços na ONU e FMI, os
emergentes trilham caminhos próprios. Não se deve exagerar a importância que o
Banco dos BRICS poderá desempenhar nas atividades de fomento do desenvolvimento
econômico de cada um dos países do bloco. Sua criação não é uma necessidade
premente, uma questão vital, mas faz parte de um processo de confrontação com
organismos como o FMI e o Banco Mundial, que têm falhado muito no seu
relacionamento com as economias emergentes.

A criação do banco e o funcionamento do Arranjo Contingente
poderão ser muito interessantes, mas não a ponto de mudar a perspectiva de
desenvolvimento das economias dos BRICS. No fim das contas, 50 bilhões de
dólares para repartir entre as cinco economias não representam uma oferta de
recursos tão extraordinária que justifique a relevância às vezes exagerada que
lhe atribuem. Para o Brasil, eles serão simplesmente instrumentos úteis para a
discussão, em igualdade de condições, com Rússia e Índia, por exemplo, de
questões relacionadas a seus investimentos que estejam fora do interesse ou do
alcance de outros organismos ou fóruns internacionais.
Na
organização do banco de fomento dos BRICS, negocia-se a participação de cada um
no capital. Aparentemente a questão não está definida, embora se diga que
a China entrará com a maior parcela. Caberia ao Brasil, à Índia e à Rússia
aportes restantes, a menor parcela caberá à África do Sul.
Seria
o início de uma nova Guerra Fria? Provavelmente não, mas os órgãos de controle
mundial ONU e FMI foram criados após o fim da Segunda Guerra, de lá pra cá
muita coisa mudou, as lideranças, os poderes e principalmente o comércio. Então,
não cabe mais à Europa e EUA o comando do mundo. Seja bem vindo Banco do BRICs.
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