PROBLEMAS URBANOS, DOENÇAS SOCIAIS

Mas como pode ser definida a expressão Doença? Do ponto de vista físico-individual, defini-se como não estar bem fisicamente, mentalmente e socialmente. A doença na sua grande maioria não acontece do indivíduo para a sociedade, mas da sociedade para o indivíduo. Então, se pode afirmar que, Doença Social é um problema social, é um mal que atinge a sociedade. Principalmente nas sociedades mais urbanizadas, quando não existe um relativo equilíbrio na sociedade derivado da igualdade social, quando a mesma não consegue se manter e resolver seus próprios problemas ou gera ainda mais, pode-se dizer que a mesma está doente, enferma… ou seja, adoecendo os indivíduos que fazem parte dela.

Com a observação do dia-a-dia do cidadão nas cidades em geral, observa-se que uma série de condições que acabam culminando em situações complicadas que ocasionam uma grande quantidade de seqüelas aos transeuntes urbanos, em conseqüência, originar-se-ão muitas doenças patológicas. Portanto as doenças urbanas, que são doenças sociais, acabam por originar doenças patológicas, que devem ser tratadas por médicos.
E o tratamento como deveria ser? O ideal seria tratar as patologias (conseqüências) ou as sociológicas (causas)? É evidente que não se deve tratar a febre originada pela dor de cabeça e sim a matriz desse fato.
As “Doenças Urbanas” e são bastante comuns em quase todas as cidades, principalmente nas médias e grandes, neste texto será trabalhado algumas dessas doenças e também, a possibilidade de resolve-las.
A falta de planejamento urbano: caracterizando-se em cidades que apresentam ruas não padronizadas, algumas muito largas e outras muito estreitas. Algumas, mesmo construídas em lugares planos, possuem um exagerado número de curvas e outras ainda, traçadas em sentidos diagonais, totalmente fora dos padrões do conjunto inicial. Isso impede a circulação das correntes de ar, pois sendo traçadas em sentido contrário a direção dos ventos, não haverá a renovação do ar. Criando-se, então, um micro-clima, que pode ser muito prejudicial à saúde da população.
A falta de planejamento na hora de criar os “distritos industriais”, que acabam por colocar fábricas nos centros das cidades, também auxilia na criação do micro–clima e com isso eleva-se o nível de poluição a patamares inaceitáveis para a saúde humana. Com isso, tem-se uma população com grande índice de Doenças Respiratórias, principalmente na população infantil, o que provoca a superlotação nos hospitais, principalmente no inverno.
Ainda se pode citar a grande quantidade de cimento, vidro, asfalto e similares que são aplicados nas cidades, com isso, cria-se uma ilha de calor dando origem à inversão térmica, que está trazendo uma série de seqüelas às populações residentes. Em São Paulo, durante o inverno, tem-se índice de URA (Umidade Relativa do Ar), inferior a 20%. Ou seja, o ar de São Paulo está mais seco, com menos umidade do ar que o ar do Deserto do Saara. Em Paris, a mais de 25 anos, praticamente não há mais precipitação de neve, devido à presença da inversão térmica.
Além do super aquecimento que ocorre em todas as cidades, a inversão térmica, também traz doenças respiratórias. Quando acontece em cidades sem planejamento urbano pode provocar situações complicadas como na cidade do México, onde os habitantes são aconselhados pelas Autoridades da Área da Saúde a usarem máscaras protetoras durante os dias em que a qualidade do ar se apresenta inadequada para a respiração.
Barreiras Arquitetônicas: são poucas as cidades brasileiras que possuem um trânsito adequado para portadores de necessidades especiais, principalmente os portadores de deficiência física. E isso é contrário a Lei, pois se sabe que os direitos de ir e vir estão garantidos na Constituição Federal. Mesmo assim o Estado não consegue “ver” e quem diria resolver o problema.
Uma cena muito comum, que pode ser observada em todo o país é aquela, em que algumas pessoas carregam um portador de deficiência física para dentro de um banco, repartição pública ou mesmo para os sistemas de transporte. Lamentável! Pior que isso, é ter uma rampa com um grau de inclinação tamanho que não propicia seu aproveitamento. Isso também é muito comum, também, em outros países, principalmente, os do Sul. Será que é tão difícil criar rampas adequadas na estrutura urbana de uma cidade?

Incrível é o que acontece na cidade Joinville, em algumas ruas tem-se o rebaixamento de calçadas para facilitar o deslocamento de portadores de deficiência física, porém, quem faz uso do rebaixamento são os ciclistas, pois os mesmo são tão estreitos que não comportam uma cadeira de rodas. O que gera outro problema, pois Joinville que tem o título de “cidade das bicicletas”, se entende que deveria ter em todas as principais ruas uma ciclovia, mas isso só ocorre na teoria. Na cidade de Joinville tem-se uma ou duas ruas com ciclovia. Aí, ou o ciclista disputa espaço com veículos no meio das pistas onde pode ser atropelado, ou com os pedestres na calçada onde pode atropelar alguém.
A Violência Social ou ideológica não se apresenta como um ato identificável facilmente, mas restringe subjetivamente a vida das pessoas, é o preconceito, difamação, desvalorização, abandono, repressão, dominação, coerção, alienação, exploração, corrupção… existe violência mais acentuada que receber um salário mínimo por mês no Brasil? Ou não conseguir um emprego por ser negro ou portador de alguma deficiência? 
No âmbito da violência social que germinam, em forma decrescente, as barreiras, as limitações enfrentadas pelos marginalizados, ou seja, pelos deficientes físicos e mentais, idosos, obesos, alcoólicos, drogados… enfim, todos os que se locomovem com alguma dificuldade temporária ou permanente, ou todos que socialmente estão em dificuldade de adaptação e integração social.
Barreiras Culturais: que é a violência social em si, ideologicamente se caracterizam como: o preconceito (todo ex-presidiário não presta, todo drogado é vagabundo...), discriminação (há escadarias, mas, não há rampas para os portadores de deficiência física; como ônibus, existem, mas nem todos estão adaptados...), desvalorização (na questão de emprego para os portadores de deficiência...), abandono (de idosos, crianças, alcoolistas, soropositivos...), superproteção ou paternalismo (portadores de deficiência...);
Barreiras pessoais: são aquelas definidas pelo aspecto emocional, de cunho psicossocial que se caracterizam como: baixo estima, depressão, vergonha, acomodação, complexo de inferioridade, sentimento de culpa, solidão, medo...
Por vezes, não se entende por que tal pessoa, que está com alguma dificuldade física, mental ou social se encontra numa condição de inferioridade ou isolamento. Refletindo, pode-se afirmar que ela é conduzida a agir e estar de tal maneira devido a todo processo de violência social, que é definido inicialmente pelas barreiras culturais, impostos pela sociedade como um todo.
No Brasil, enquanto os detentores do poder não se dispuserem a enfrentar o problema da violência sob o ponto de vista sócio-político, mudando de postura política e adotando medidas sérias e honestas, investindo em modalidades como: emprego, família, saúde e educação, infelizmente se terão que contar somente com a modalidade da repressão: prisões e centros de internamento para adolescentes, como forma ilusória de reduzir atos violentos da sociedade.  
A solução real seria investir no âmbito da prevenção, atacando o mal pela sua raiz, pois somente um vastíssimo esquema de medidas preventivas é capaz de refrear a criminalidade, de reduzi-la a um nível suportável.
Mas, enquanto o esforço político não se manifesta em termos preventivos, em que condições sociais encontram-se os encarcerados? Em prisões lotadas e subumanas, longe ainda de serem resgatados no âmbito da educação para a vida, orientação e preparação para o trabalho… suas necessidades básicas não são supridas: assistência á saúde e jurídica, dentre outras. Por que? Porque para muitos, eles são e serão sempre marginais, no sentido errôneo da palavra.
E, em que condições sociais encontram-se os adolescentes infratores? Em programas sócio-educativos, cabe lembrar, quando estes existentes.  Bem, o Estatuto da Criança e do Adolescente tenta trazer uma visão com cunho sócio-educacional. Para os que não cometem infrações gravíssimas, a autoridade competente - Juizado da Infância e da Juventude - não aplica uma pena, mas uma medida, uma medida sócio-educativa, que pode ser descrita, conforme Art. 112 do (ECA) Estatuto da Criança e Adolescente.
Inflação Humana: Quando Thomas Robert Malthus, em 1798 questionou o crescimento populacional, muito disseram que ele estava louco. Na verdade a teoria Malhusiana não possui muito crédito mesmo, porém, no que diz respeito ao crescimento populacional Malthus estava coberto de razão.
Logo após o início da Era Cristã, a população humana levou cerca 1650 anos para dobrar e, nas últimas décadas está dobrando em apenas 25 ou 30 anos. Uma verdadeira inflação humana. Apenas o crescimento não chega a ser um mal, o problema vai além, onde este batalhão de novos humanos vai morar, trabalhar, estudar e principalmente, o que vai comer, vestir e beber?
As reservas de água potável estão se esgotando. De todas as regiões do mundo chegam notícia de poluição em mananciais, rios estão morrendo, lagos secando, gente morrendo de sede. Até quando se irá ter este líquido precioso para matar a sede? Pois já está se falando e praticando a privatização das fontes de água. Na agricultura, a produção de fontes de alimentos básicos diminui a cada ano e a produção de matéria-prima agrícola para a indústria, continua aumentando, batendo recorde todos os anos. A fome parece próxima, principalmente quando se fala em distribuição de alimentos. Para complicar ainda mais a situação, quase todas as fontes de matérias-primas estão ameaçadas de sucumbirem bem antes que se possa imaginar.
Desde o princípio da humanidade até 1920, foram extraídas e gastas umas certas quantidades de matéria-prima minerais, de 1920 até os dias de hoje, gastou-se outra quantidade de igual proporção. É obvio que está se descobrindo fonte alternativa de matéria-prima, principalmente mineral, mas o grande problema está na alimentação. No início do século XX, segundo a FAO, cultivava-se mais de 50 tipos de arroz, nos dias de hoje, em todo o sudeste asiático planta-se apenas um tipo e em todo o mundo não passa de cinco. Isso faz com que as pragas e doenças tornem-se mais resistentes e cada vez precisa usar doses mais fortes de veneno para manter a produção e com isso perde-se em qualidade de vida.

A urbanização parece ser uma regra para abrigar o excedente populacional, mas nos últimos anos observa-se um enorme grupo de excluídos nas cidades e, isso só se dá porque o êxodo rural está a cada dia mais significativo e a qualificação da mão-de-obra é uma obrigatoriedade. Tem-se ainda a automação dos meios de produção, que já é uma realidade e está tirando muitos empregos da população em geral. Então, qual é a saída? Em geral as pessoas excluídas estão abrigadas em favelas, sujeitas ao crime organizado e principalmente aos problemas sociais (falta de infra-estrutura, analfabetismo, subemprego, desnutrição,…). Com medo da violência urbana, as pessoas se prendem em apartamentos e condomínios e acabam por sofrer de uma outra Doença Urbana que é a solidão.
Solidão: Parece estranho falar em solidão em uma cidade, como poderia estar só vivendo com milhares de pessoas por perto? Então, eu lhe pergunto: desses quem você conhece? Quantas sabem seu nome? Pois é, nem mesmo seu vizinho você sabe o nome ou ele sabe o seu. Claro que isso tem uma explicação, quem garante que ele não é um criminoso? Na realidade ele pensa o mesmo de você. Portanto, vive-se em meio de milhares de pessoas e assim mesmo, a pessoa sente-se só.
Ao chegar o final de ano as pessoas, em geral, reclamam de uma só doença patológica que é o Estresse, será que ele tem cura? A priori sim, mas não de forma definitiva, porque logo as pessoas retornam à rotina do dia-a-dia e o tudo volta a ser como era antes. Então, se o estresse aparece durante o decorrer do ano, ele é causado por condicionantes sociais e sua cura está no social e não no físico.
Favelas, violência urbana e solidão são resultados não apenas do exagerado crescimento da população mundial, mas também das grandes aglomerações urbanas, se a densidade demográfica do Brasil é de 26 hab/km², não justifica se ter uma megalópole como São Paulo que concentra 35 milhões de pessoas. Se houvesse uma política de redistribuição populacional no território brasileiro, certamente poder-se-ia investir menos em saúde curativa.
As doenças urbanas são frutos de problemas estruturais e organizacionais da sociedade e podem ser resolvidos com uma reurbanização capaz de trazer uma melhor qualidade de vida para a população e principalmente uma ressocialização do país, pois é inaceitável que um país tão próspero quanto o Brasil, possua excluídos.
Também, se faz necessário um controle de natalidade mais sério para a população, principalmente nos países que apresentam taxas de crescimento vegetativo maior que a taxa de crescimento econômico.
Mas nada disso terá resultado se não houver um grande investimento em educação. Pois se as pessoas não mudarem seus hábitos, seus costumes, se jeito de ser, de nada adiantará outras iniciativas.

“Particularmente eu não me preocupo quando nasce uma criança na Etiópia ou no Paquistão. Me preocupo sim quando nasce uma criança nos Estados Unidos da América”, afirma Carlos Walter Porto Gonçalves, em seu livro Ética, Vida e Sustentabilidade; pois um americano médio consome o equivalente a 175 vezes o que consome um etíope, ou 53 vezes o que consome um paquistanês. Se o estilo de vida da população estadunidense for considerado ideal, o Planeta Terra não comportaria mais de 4 bilhões de habitantes, já somos 6 bilhões; como será então, daqui a 50 anos quando a população mundial chegar a 10 bilhões? Então, se as pessoas não mudarem seu comportamento, certamente não teremos bem estar por muito tempo.

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