A URBANIZAÇÃO DE JOINVILLE-SC
Há vestígios de que há
aproximadamente 5.000 anos, seres humanos já habitavam a região onde hoje se
situa o município de Joinville; eram chamados de povos sambaquianos.
Posteriormente, os povos Carijós habitaram as mesmas terras e chegaram a
iniciar algum tipo de agricultura; são dados comprovados por estudos
históricos. Contudo, as grandes transformações no solo dessa região, só
apareceram a partir de 1504, com a vinda do francês Binot Palmier de
Gouneville, possível fundador de São Francisco do Sul.
“De 1842 a 1844, um grupo de franceses, chegaram em duas levas,
provenientes das cidades de Havre e de Paris, sob a liderança do Dr. Benoit
Mure, tentou a instalação de uma colônia socialista, orientada pelo catecismo
de Charles Fourier, então na moda. Instalaram-se na península do Saí, na
extremidade continental, diante da Ilha de São Francisco, próximo à futura
Colônia Dona Francisca”. (TERNES, 1993, p. 21).
Em 9 de março de 1851, aproximadamente 200 suíços,
noruegueses e alemães chegaram e fundaram aquela que seria a Vila Dona
Francisca, impulsionando assim a produção agrícola. Em meados do século XX,
muitas famílias de italianos juntaram-se às já residentes e agregaram o cultivo
de arroz.
Segundo a Fundação IBGE no ano de
2003, última projeção, a população de Joinville é de 454.426 habitantes, dos
quais 94.7% residem no perímetro urbano. Conseqüentemente, 24.085 habitantes
(5.3%) residem na zona rural. É uma população superior a, pelo menos, 200 dos
293 municípios de Santa Catarina. Situando-se como uma cidade pólo, a
influência de Joinville atinge toda a região Nordeste, parte do Norte e parte
do Leste; aproximadamente 900.000 pessoas são influenciadas de forma social,
política e econômica.
Quando
CORRÊA (2000, p.07), define Espaço Urbano, ele diz:
O espaço de uma grande cidade capitalista constitui-se, em um primeiro
momento de sua apreensão, no conjunto de diferentes usos da terra justapostos
entre si. Tais usos definem áreas, como o centro da cidade, local de
concentração de atividades comerciais, de serviços e de gestão, áreas
industriais, áreas residenciais distintas em termos de forma e conteúdo social,
de lazer e , entre outras, aquelas de reserva para futura expansão. Este
complexo conjunto de usos da terra é, em realidade, a organização espacial da
cidade ou, simplesmente, o espaço urbano, que aparece assim como espaço
fragmentado.
Já SANTANA
(1999, p.49), informa que “o crescimento da cidade de Joinville, em termos
espaciais, está diretamente vinculado á expansão da base econômica-industrial,
que trouxe consigo o crescimento populacional”.
A historia
da evolução do espaço urbano na cidade de Joinville, inicia-se, de fato, no
período entre 1800 –1851, quando o Brasil começou a receber um grande
contingente de imigrantes europeus. Em Joinville os primeiros imigrantes que
vieram orientados pela Companhia Colonizadora de Hamburgo se depararam com
enormes dificuldades. Segundo ROCHA (1997, p. 22), eram profissionais
independentes como tecelões, alfaiates, fabricante de tecidos, e fabricante de
tecelagem, boticários, sapateiros e lavradores. Entre estes imigrantes e ainda
outros que chegariam, houve uma tendência ao investimento em empreendimentos
baseados na pequena produção mercantil que atendessem as necessidades locais
como comércios, olarias, serrarias, usina de açúcar, ferrarias e
comercialização de produtos coloniais (manteiga, açúcar, queijos etc.).
Segundo
MAMIGONIAN (apud Rocha, 1997, p. 23), “O tipo de colonização, ou seja,
adensamento de agricultores em pequenas propriedades (em torno de 25 hectares),
com mão de obra familiar, e a presença de ‘pessoas de origem extra-agrícola’
determinou um desenvolvimento produtivo favorável á industrialização. Havia
condições (amplo mercado de consumo e mão de obra qualificada) para a formação
e distribuição do excedente econômico entre grandes e pequenos
estabelecimentos”.
No período de 1900 á 1920, dada a
falta de infra-estrutura urbana, a economia foi direcionada para o cultivo de
erva-mate no planalto norte. Em Joinville se fazia somente a secagem e o
empacotamento. Esta atividade, que originou um novo ciclo, propiciou a geração
de atividades secundárias como oficinas para os carroções que transportavam o
produto, cortumes para a fabricação de utensílios como bancos, ferrarias etc.
Nas palavras de ROCHA (1997, p.40), ”A forte demanda das economias do mate e
madeira influiu na posterior tradição metal-mecânica de Joinville, diferente da
de Blumenau, onde predominou a têxtil”. Neste período surgiram pequenas
fábricas de fundo de quintal como a atual Companhia Wetzel Industrial (fábrica
de velas e sabão), a Dohler S. A. (produção de camisas), a Lepper (produtos
têxteis), a Enterlein e Cia (futura Tupy), com uma oficina de consertos, a
Farmácia Minerva (futura Drogaria Catarinense) com produtos farmacêuticos e
outras formando um complexo de 91 estabelecimentos. A cidade abastecia sua
população e outras cidades vizinhas. Segundo Ternes (2002, p. 19) “(..) e
Joinville, com maior população,situa-se como ‘cidade de serviços’, onde os
habitantes de todo o norte/nordeste catarinense poderiam encontrar atendimento
medico, advogados, boas casas comerciais, hospital e até mesmo escolas de melhor
qualidade”
Entre os anos de 1920 á 1945, com a
melhoria de infra-estrutura, acompanhando o dinamismo das transformações
econômicas, Joinville realiza grande esforço no sentido de se equipar com os
serviços básicos de infra-estrutura (TERNES 2002). Com o advento da Segunda
Guerra Mundial, devido á substituição forçada de importações advindas da
Europa, verificou-se um crescimento acelerado das indústrias e aumentaram as
vendas no mercado interno e externo, principalmente na América Latina.
Com a Segunda Guerra, a Fundição
Tupy, recém fundada em 1938, duplicou a produção de conexões para atender o
mercado externo, posto até então ocupado pelo Japão e pela Alemanha. As
empresas White Martins (1938), Buschler e Lepper (1943), Moinho Santista (1944)
e Cia Hansen Industrial (1941), também surgiram neste período.
Mas foi
entre 1945 e 1964 que a indústria de base alcançou seu auge. No município de
Joinville, segundo SANTANA (1999, p. 47) “alguns eventos tornaram-se
influenciadores na expansão urbana tais como o porto, localizado nas imediações
do atual mercado municipal e a conclusão da BR-59 (atual BR-101), no final da
década de 60”. Neste período surgem a Carrocerias Nielson (1946), hoje
conhecida como Busscar, a Consul (1950), a Campeã S.A (produtos têxtil
esportivos), a Metalúrgica Duque (1955), a Ciser (1958), a Hansen Máquinas e
Equipamentos, definindo a vocação industrial joinvilense no ramo de
metal-mecânico-plastico.
Com a instalação do governo militar e
a conquista da democracia, de 1964-1990 o Brasil viveu o milagre econômico,
conforme ARRUDA e PILETTI (1995, p. 324) “em 16 anos, o Brasil saltou do 50º
para o 10º lugar na lista de nações com o maior PIB (Produto Interno Bruto).
Concentrou mais de um quarto do desenvolvimento industrial do chamado Terceiro
Mundo”. Joinville passa a atrair grande contingente de migrantes de outros
municípios interioranos de Santa Catarina e do Paraná praticamente duplicando
sua população. Empresas como a Tupy, a Consul e a Hansen se consolidaram em
nível nacional.
Outras empresas como a Interfibra
industrial (1976), a Tubos e Conexões Tigre (1975), a Pink and Blue Confecções
se destacaram no cenário nacional.
No início dos anos 80, um diagnóstico
dos técnicos alemães da FGTZ, mostrou as carências de Joinville, Ternes (2002,
p. 70/71):
-
índice de crescimento populacional de 115%;
-
75% da população vivendo com renda de até três salários mínimos;
-
orçamento do município em progressão decrescente;
-
70% da cidade sem coleta de lixo;
-
35% da cidade não possui abastecimento de água;
-
70% da população não tem coleta de esgoto domestico;
-
falta de leitos hospitalares e deficiências graves na área de segurança
pública;
-
desenvolvimento descontrolado na periferia;
-
ampliação não recomendável do perímetro urbano;
-
malha viária antieconomica;
-
transporte urbano deficiente;
-
destruição indiscriminada da topografia;
-
poluição de rios e córregos;
-
desmatamento nas áreas de captação de água.
Estes dados comprovam a carência
estrutural vivida pela população joinvilense ou mostra a realidade das cidades
brasileiras.
ajudo em nada
ResponderExcluirb.os.ta
ResponderExcluir