A CONCENTRAÇÃO DE TERRAS NO BRASIL
Quando da
ocupação do território brasileiro, a coroa portuguesa distribuía as terras de uma
forma política, sempre abonando com as melhores terras os súditos que atendiam
de forma mais exemplar os desejos da família real. Pois, havia um interesse
maior que era sustentar a metrópole e, então, se as pessoas escolhidas de forma
correta iriam dar o retorno econômico esperado. Poucos eram os não portugueses
que conseguiam posse de terras sem as tê-las comprado ou trocado por
generosidades ao rei. Nem mesmo com a proclamação da República em 1822, essa
realidade mudou.
Somente
em meados do século XX é que a situação começa a tomar um novo rumo,
principalmente devido ao fortalecimento e internacionalização do capitalismo
aqui no Brasil, que está vivendo um processo de elevação do índice de
crescimento populacional, o que acaba por criar uma necessidade de geração de
emprego para a população camponesa e por conseqüência um acréscimo de produção.
No início
dos anos 60, o Presidente militar Castelo Branco, empossado no lugar de João
Goulart, enviou ao Congresso um projeto de reforma agrária moderado e estimulador
do desenvolvimento do sistema capitalista. Tal projeto transformado em Lei
ganha o nome de Estatuto da Terra. Este Estatuto procurava, a um só tempo,
possibilitar uma reformulação fundiária e desenvolver uma política agrária que
levasse a agricultura brasileira a se enquadrar nos modelos capitalistas
empresariais. Essa Lei cria dois órgãos: o Instituto Brasileiro de Reforma
Agrária – IBRA, que se encarregaria da reforma da estrutura fundiária, e o
Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrícola – INDA, que dirigiria o processo
de colonização. Dando a cada um “plenos poderes”.
Segundo
Andrade (1991, pág. 60) “Essa dualidade na condução da política agrária
naturalmente entravaria o processo de reforma, em 1969, com a reformulação
institucional, os dois institutos fundiram-se, criando o Instituto Nacional de
Reforma Agrária – INCRA”. Essa reformulação foi feita visando os grandes
projetos de integração e ocupação da Amazônia, atraindo migrantes do Nordeste e
do Sul do país, com a intenção de possibilitar a tomada de posse definitiva
dessa área, consolidando o capitalismo na Amazônia brasileira.
Os
cadastramentos feitos pelo INCRA até 1976 mostraram que havia, no território
nacional, um domínio completo de latifúndios. Após essa constatação, o INCRA
suspende o sistema de cadastramento. O resultado do cadastramento do INCRA pode
ser observado na tabela a seguir:
TABELA I: Estrutura Fundiária Brasileira:
Tamanho das
Propriedades
|
Porcentagem dos
Estabelecimentos
|
Porcentagem da
Área
|
Até 10 ha
|
44,7
|
02,6
|
De 10 a 50 ha
|
36,7
|
11,4
|
De 50 a 100 ha
|
08,2
|
07,6
|
De 100 a 500 ha
|
01,2
|
11,3
|
De 500 a 1000 ha
|
08,3
|
23,0
|
Mais de 1000 ha
|
00,9
|
44,1
|
Total
|
100,0
|
100,0
|
Fonte: Fundação IBGE, 2006.
Na tabela
I pode-se observar que realmente houve uma gigantesca concentração de terras no
Brasil. Se forem destacadas apenas as propriedades com mais de 100 ha, será
observado que eles ocupam mais de 78% das áreas agricultáveis, mesmo sendo
pouco mais de 10% do total de estabelecimentos desse país. Ao passo que mais de
81% das propriedades ocupam menos de 14% da área destinada à agricultura e são
propriedades com menos de 50 ha, logo consideradas deficitárias pelos órgãos
oficiais ligados a agricultura.
Outros
mecanismos foram criados, como o PIN – Programa de Integração Nacional – que se
completaria com a construção de grandes troncos rodoviários, como a
Belém-Brasília, Cuiabá-Santarém, e outros, com a intenção de ocupar o interior
país. O PROTERRA, programa pelo qual o proprietário poderia oferecer parcela de
suas terras para a exploração de parceiros, o que parecia o início de uma
possível reforma agrária, ou simplesmente ocupar as áreas ainda ociosas do
território nacional.
Por outro
lado, o estado, para atender os interesses dos latifundiários, continua a
financiar vários projetos agrícolas, dando origem ao slogan “exportar é
desenvolver”. Através deles, muitos latifundiários aumentaram sua produtividade
agrícola e também tomaram terras de Índios e posseiros, aumentando, ainda mais,
a concentração de terras no Brasil.
O aumento
da produtividade se deu por meio de uma tecnologia, que era principalmente
importada. Essa tecnologia, também, estimulou a mecanização, aumentando, ainda
mais, a diferença sócio-econômica entre os grandes e pequenos proprietários
agrícolas.
Outro
fato, que também propiciou o desaparecimento de algumas pequenas propriedades
rurais, foi o financiamento, por parte do estado da implantação de unidades
industriais modernas que acabaram provocando uma expansão ainda maior da
monocultura. Como destaca Andrade (1994 pág. 23):
“A política governamental
capitalista, preocupada em estimular a concentração de renda, não procurou
atenuar as suas conseqüências nefastas de uma política desenvolvimentista na
forma de cooperativas. O Governo preferiu transformar os pequenos trabalhadores
em assalariados, em vez de propiciá-los uma distribuição de terras”.
O pequeno
proprietário, em geral, abandona o campo porque a renda que ele retira da
propriedade é, em geral, inferior à que ele precisa para sua subsistência.
Essa
saída do campo é conhecida no meio acadêmico como êxodo rural. O êxodo rural
traz como conseqüência o inchaço urbano, que tem como conseqüência uma série de
fatores.
O
camponês que migra para a cidade tem uma grande dificuldade de se estabelecer,
pois ele não tem profissão urbana e por isso terá um salário muito baixo. Por
ter salário baixo, terá dificuldades de sobrevivência como qualquer cidadão da
periferia de qualquer grande cidade. A grande diferença é que o camponês pode
voltar para a terra e lá buscar sua sobrevivência, basta ter uma oportunidade.
Neste contexto, a realidade catarinense se apresenta
um pouco diferente da realidade nacional. Pois, enquanto no Brasil, segundo o
IBGE, tem-se 86% das propriedades com até 50 ha, em Santa Catarina elas somam
91%. Enquanto de todo o pessoal ocupado nas atividades agrícolas, em Santa
Catarina 84% está concentrada nas pequenas propriedades, a média brasileira é
de 76%. Ou seja, há muito mais camponês dependendo das pequenas propriedades em
Santa Catarina, se compararmos com a média nacional.

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